Há algum tempo estamos acompanhando o desenvolvimento desastroso na Educação Física em Sergipe.
JornaldaCidade.Net
Gladston Santana - Graduado em Educação Física pela UFS
Há algum tempo estamos acompanhando o desenvolvimento desastroso na Educação Física em Sergipe. A disciplina curricular obrigatória em todas as séries desde a educação infantil até o ensino médio perde a cada dia sua tão importante função educacional.
No início da carreira escolar onde temos a necessidade de aprender conteúdos unicamente pertinentes à Educação Física, o primeiro grande sinal de desprezo por essa disciplina pode ser observado: os próprios professores do ensino infantil, em sua maioria formados em Pedagogia, são os responsáveis por ministrar as aulas de Educação Física.
Mais essa falta de respeito com a Educação Física continua no decorrer da vida escolar. No ensino fundamental, é comum encontrarmos professores dando aulas em pleno meio dia, em quadras muitas vezes descobertas e sem as mínimas condições de fazer o aluno assimilar conteúdo algum. Isso acontece porque, na elaboração do planejamento anual de aulas feito pela direção da escola, o único horário que “sobrou” para o ensino dos conteúdos da Educação Física foi aquele do meio-dia naquela quadra insuportavelmente quente e descoberta. Aparentemente, não deve ter sobrado sequer uma sala de aula por que os professores de outras disciplinas devem ocupá-la para passar os seus conteúdos.
Mas o pior ainda estar por vir. Refiro-me ao ensino médio – etapa na qual já deveríamos ter de forma completa uma consciência corporal, uma visão positiva do esporte, um olhar crítico do mundo, um entendimento sobre as transformações globais, uma ajuda na formação de sua própria índole positiva e outras tão importantes intervenções pedagógicas que a Educação Física deveria nos ter transmitido. E na verdade ainda não sabemos nada. Muitas vezes porque as escolas não fizeram questão alguma que os professores tratassem nas aulas de Educação Física de assuntos tão importantes.
Falando dessa relação entre Educação Física e escola, o dilema contemporâneo é ainda maior. Será que para a escola é mais importante que o professor faça de seu aluno um ser pedagogicamente consciente ou que esse mesmo professor vire um “treinador” e faça com que o time da escola seja campeão de alguma competição? Pois é. A fúria da iniciativa privada e o marketing que atingiram o âmbito escolar promoveram uma inversão de objetivos, ou seja, a escola não prepara o aluno para a vida e sim para o vestibular. Para ela, quanto mais aprovados no vestibular, maior também será a parte de mídia utilizada para que novas matrículas sejam realizadas e assim alavanquem ainda mais o nome da instituição.
Nesse contexto, a Educação Física está virando apenas mais uma ferramenta para abrilhantar as campanhas de marketing da escola. Já é comum vermos por aí outdoors com as seguintes frases: “Colégio tal onde seu filho será campeão no esporte e no vestibular” ou “Colégio tal o único que conseguiu 100 medalhas de ouro nos joguinhos escolares”. E, para que o objetivo das escolas seja alcançado, a grande maioria das escolas particulares oferece bolsas de estudos para alunos “atletas” que se destacam em alguma modalidade esportiva. Atenção para o detalhe: se o time conseguir o título, a bolsa é renovada; se não conseguir, está todo mundo na rua, inclusive o professor. Até as emissoras de TV local criaram inúmeras competições para, segundo elas, promover o esporte escolar. Isso não corresponde aos fatos. A verdade é que o professor, dessa forma, tem que se transformar num treinador de esportes de alto rendimento para que sejam conseguidos títulos para a escola durante o ano. Com isso, é comum vermos, durante essas competições, cenas lamentáveis de “treinadores” gritando, brigando e até esbravejando contra seus alunos “atletas”. E aí? Onde fica a pedagogia?
O poder público deveria incentivar a criação de políticas públicas de apoio à Educação Física e ao esporte pedagogicamente corretas. Todavia, o que se vê é uma devoção total ao esporte de alto rendimento, de que o maior exemplo será a realização da Olimpíada e Copa do Mundo aqui no Brasil. Em nível municipal o órgão público responsável pelo esporte tem como carro chefe o “Bolsa Atleta”, programa de transferência de renda para atletas de alto rendimento.
Como é possível perceber, é preocupante a situação da Educação Física nos dias atuais em Sergipe. Esse quadro só poderá ser revertido com a presença de profissionais capacitados e, principalmente, com sensibilidade pedagógica para exercer a profissão de professor de Educação Física, a qual, quando bem valorizada e respeitada ,torna-se uma ferramenta essencial para o desenvolvimento físico e afetivo de adolescentes e de jovens sergipanos