Saiba como fazer com que as aulas famosas pelo agito dos jogos e das brincadeiras também tenham momentos de análise e reflexão
como obter o equilíbrio durante a caminhada:
dar passos curtos e manter os braços abertos ajuda?
A partir dessa etapa, a respiração fica ofegante?
O coração bate mais rápido?
Você precisa levar cada estudante, logo no início da escolaridade, a se observar e se analisar. Assim todos vão dar os primeiros passos para adquirir saberes que serão explorados até o término do Ensino Médio: o conhecimento de si mesmo, as possibilidades de movimento, as limitações do corpo e os conceitos fisiológicos. É dessa forma também que a turma vai aprendendo que a Educação Física é mais que movimento e adquire, com o passar do tempo, autonomia na prática da atividade física e na manutenção de uma vida saudável, conceito importantíssimo e cada vez mais em voga.
Atividades que colocam os movimentos em evidência, como os circuitos, são uma boa pedida de acordo com os especialistas (veja uma sugestão nas ilustrações desta reportagem).
No CE Sesi 265, em Santo André, na Grande São Paulo, a professora Deborah de Oliveira Campos Figueiredo propõe diversos deles para a garotada de 2º ano. "Também incentivo o grupo a sugerir algumas etapas e dar ideias para tornar mais desafiadoras outras que mesma apresento", explica.
Importante: é claro que para desenvolver as competências de observação e análise não é necessário decretar o fim das atividades lúdicas. Elas são importantes desde que bem conduzidas. Além disso, muitas crianças esperam ansiosas o momento da Educação Física para brincar. No entanto, a missão do educador é ir além. "Aulas com brincadeiras soltas, sem objetivos claros, contribuem para os alunos encararem a disciplina só como um momento de prazer e formarem uma concepção distorcida dela.
Depois da prática, convide a garotada a conversar sobre o que foi feito e como o corpo reagiu à atividade. Nesse momento, seu papel como mediador do papo é muito importante: elabore questões para conduzir as falas. Caso contrário, certamente a discussão não vai render muito, já que os alunos tendem a fazer comentários vagos, como "foi legal" e "eu me diverti".
De acordo com Elisabete dos Santos Freire, professora da Faculdade de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é interessante pedir para que os estudantes prestem atenção nas batidas do coração colocando a mão no peito ("elas estão aceleradas?"), no ritmo da respiração ("vocês estão ofegantes?") e na temperatura corporal ("estão sentindo muito calor?", "estão transpirando muito?" e "estão com sede?"). Perceba que não são utilizados termos como batimento cardíaco, circulação sanguínea, fadiga, estresse muscular e desidratação. Ainda é cedo para nomear esses conceitos, embora esteja se tratando deles na conversa. "Não se descobre como o corpo funciona só quando se está em movimento. Falar sobre ele é muito importante", explica André Trindade, psicomotrista proprietário do espaço Núcleo do Movimento, em São Paulo.
Quanto à prática, conduza a criançada a falar sobre quais partes do corpo foram requisitadas para realizar os desafios do circuito e peça que os estudantes pensem em como aperfeiçoar os movimentos. Essas são questões pertinentes: "Para caminhar rápido em cima do banco sueco, vocês usaram só as pernas e os pés? Se o objetivo é se equilibrar melhor e evitar quedas, o que poderiam ter feito? Abrir os braços funcionaria? Por quê? É melhor olhar para a frente ou para baixo?"
Outro bom encaminhanento para a conversa é sugerir que as crianças contem as dificuldades que encontraram durante o circuito e estimular os colegas a dar dicas de como vencer o percurso com mais facilidade. No entanto, cuide para que esse momento não se transforme numa busca da perfeição nem em um espaço para descrições vazias. Lembre-se de que as análises têm como objetivo principal fazer os alunos pensarem sobre o organismo e o como ele reage à prática. Dessa maneira, com o passar do tempo, eles ampliam o repertório gestual e passam a se reconhecer, cada vez mais, como autores conscientes dos próprios movimentos e responsáveis por sua saúde. Não só durante as aulas de Educação Física mas também no dia a dia.
Três perguntas sobre circuito
Neila Rizzo, professora da EMEF Celso Leite Ribeiro Filho, em São Paulo, explica como planejar a atividade.
1. Quantas etapas são necessárias para compor um circuito?
No mínimo três, para impor um ritmo ao trajeto, e no máximo cinco, para evitar que a atividade se torne longa e entediante para a criançada. Além da quantidade, organizar um bom circuito pressupõe pensar nos desafios que ele impõe, na diversidade de movimentos envolvidos e na sequência deles. Não é interessante que um exercício de rolamento seja seguido por outro de corrida, por exemplo, por causa da sensação de desequilíbrio.
2. Faz sentido parar a atividade e continuar na próxima aula?
Não, nem que seja para fazer comentários, corrigir ou questionar os alunos a respeito dos movimentos realizados. Interrupções somente são válidas caso a turma esteja fazendo algo de errado a ponto de se machucar. Caso seu objetivo seja fazer pausas frequentes para analisar movimentos, por exemplo, o circuito não é a proposta ideal, já que uma das principais características dele é a realização de todas as etapas em sequência, de uma só vez.
3. É possível organizar um circuito sem nenhum material?
Sim. O próprio corpo pode funcionar como obstáculo. Um estudante pode ficar ajoelhado e com o tronco sobre as pernas, paralelo ao chão, para que os colegas pulem por cima dele, por exemplo. Outro: em pé e com as pernas abertas para os demais passarem por baixo. Se a opção for fazer o circuito desse jeito, é importante revezar o papel das crianças para que as que representarem obstáculos não se cansem nem se desinteressem pela aula.
FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/circuitos-pensar-corpo-movimento-643111.shtml?page=1