domingo, 29 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - IV

          

             Quando fui para o Ensino Médio mudei novamente de escola. Passei por um novo período de adaptação que foi muito rápido, o pessoal lá era muito legal. Nessa nova escola os alunos tinham facilidade em para se expressar, falar, se locomover era tudo muito diferente daquela “escola de vidro” na qual eu estudava.
                 No inicio fiquei um pouco chocada com isso, não estava acostumada a ver, por exemplo, um aluno discutir, questionar ou brincar com um professor ou ver o professor fazer piadas no meio da aula e achava aquele povo todo muito mal educado, mas, aos poucos fui percebendo que não que não, que eles, ao contrário de mim, sabiam se expressar, se posicionar melhor que eu. As aulas de educação física também se resumiam à prática esportiva, e como não podia deixar de ser, continuei a jogar bola, a disputar campeonatos, mas também percebi que o nosso professor (tio Hora) se preocupava não apenas em ganhar os jogos, ele procurava trabalhar, através do esporte, conceitos de respeito, união, amizade, lealdade, responsabilidade para que pudéssemos levar não só para os jogos, mas também, para a nossa vida. Lá fiz muitos amigos, gente muito bacana e que me ajudaram a quebrar um pouco da minha timidez, da seriedade, aprendi a brincar e a relaxar um pouco mais.
               Nesse período, do ensino médio, tive que escolher por um curso para entrar na universidade e ao contrário dos meus colegas, que quebraram a cabeça para fazer tal escolha, eu sempre tive bem claro o que eu queria fazer. Optei pelo curso de Educação Física porque gostava de esportes e admirava o meu professor. Porém, em certa aula, onde a professora tentava esclarecer como compor este texto, um colega falou: “no meu ver, quem optou pelo curso de educação física foi por gostar do universo que ela engloba ou foi para que tivesse a oportunidade se sentir, experimentar, libertar o seu corpo”.
                  Hoje fica claro para mim que era exatamente isso que eu buscava. Passei no vestibular, hoje estudo Educação Física e aprendi que ela não se resume aos esportes (o que me frustrou um pouco no início), mas hoje percebo a importância de todas as disciplinas. O meu corpo, apesar de sutilmente, já se comporta de outra maneira, mudei muito depois que entrei na universidade, agora rio, brinco, falo, até penso e raciocino por conta própria.
                  Pensando e repensando a minha vida, partindo da minha infância, passando pela adolescência até o que sou hoje, percebo que o trabalho que fizeram com o meu corpo não foi lá grandes coisas, pois, ele cresceu fechado, sério, tímido. Mas tive algumas oportunidades de desenvolver algumas habilidades motoras, ele é um pouco descoordenado para fazer algumas coisas (como dançar), mas não me deu nenhum problema até agora. Não posso negar a existência de várias influências negativas na construção do meu corpo, mas agora trabalho em função de melhorá-lo a cada dia, construir um corpo ativo, alegre, solto, e aberto a conhecer as suas possibilidades e utilizá-las diante da vida.

domingo, 22 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - III

            Da mesma forma, em paralelo a esse processo de desenvolvimento escolar, tive, obviamente, uma formação fora dela. Desde pequena sempre tive que ter muita responsabilidade era a única pessoa com quem minha mãe (apesar de eu não entender muita coisa) podia contar, logo que viemos morar aqui, porque meu pai passava a semana toda no interior trabalhando e quando ele voltava no fim de semana ele ia para o bar ficar com os “amigos” dele e quando chegava em casa era para infernizar a vida da minha mãe. Em seguida minha mãe engravidou, ai vinham aquelas conversas de que você vai ficar no canto, vai ter que tomar conta do irmãozinho, você tem que dar bons exemplos (até joguei a minha chupeta fora por causa disso). As brincadeiras na rua eram raras, não podia para a casa dos meus vizinhos, só podia brincar se eles fossem lá para casa, aprendi a andar de bicicleta porque a empregada que tomava conta de mim me ensinou (se dependesse de minha mãe nunca teria ganhado uma bicicleta e o meu pai com toda a paciência que Deus deu a ele nem se deu ao trabalho de me ensinar). Por conta de tudo isso acabei por assumir responsabilidades que não eram minhas (de nenhuma criança).
               Dentre tanta turbulência até que existiam alguns momentos de calmaria. Era durante as férias de final de ano. Todo fim de ano eu passava as minhas férias lá na minha “terra” (Santo André-SP) e como eu já disse é de lá que tenho as melhores recordações da minha infância, assim como a autora do texto “Uma Vida: trilhas e descobertas”, Daisy Maria Barella, que se recorda das suas férias no campo e diz que é de lá que em as melhores recordações da infância festiva e feliz. Era lá na casa da minha avó e do meu avô, onde eu podia ser criança, apenas. Sem cobranças reclamações, pressões, eu podia ser eu.
                Brincar de casinha, de esconde-esconde, fazer mágicas, soltar pipa, subir no murinho andar no meio fio, descer a rua de casa brincando de aviãozinho, tomar sorvete, ir ao parque, ao circo, os passeios pelas noites iluminadas de São Paulo, o cheirinho da comida da vovó, a voz suave do vovô, as brincadeiras do tio, a alegria da tia, as risadas da madrinha, o respeito, o amor existente naquela casa, o som do vento que passava na janela, o cheiro da chuva e aquele frio que dói na alma. Eram momentos mágicos, únicos que me lembro nitidamente e que me fazem acreditar que assim como Daisy “Essa foi a grande escola dos meu sentidos”.

domingo, 15 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - II

                 Com três anos de idade me mudei para Aracaju, porque o meu pai e a família dele são daqui. Dessa fase tenho vagas lembranças, sei que entrei em uma escolinha, na qual estudei até os seis anos, lembro que antes das aulas nós rezávamos a “Oração da Criança” , do parquinho , tinha alguns dias que as “tias” davam banho em nós  e eu odiava, chorava e fugia porque o banho era na frente dos coleginhas e para piorar era com água gelada (detesto banho com água fria) , porque até então , como morava em SP, e lá ninguém toma banho com água fria, nunca tinha tomado banho gelado. Desde quando comecei a estudar sempre dancei quadrilha, na época de São João, lá na escolinha após o recreio as aulas eram suspensas para que nós pudéssemos ensaiar, no mês de setembro a escola promovia o chamado Desfile da Primavera, sempre participei e me sentia a própria dentro daquelas roupas e desfilando para todo mundo ver, lembro que toda sexta feira era dia de ir de roupa comum, sem a farda da escola, e todos os que se esquecessem disso, quando chegavam na escola, os colega, incentivados pelas professoras, vaiavam o coleginha que tivesse ido de farda, e eu , como não podia deixar de ser, passei por tal situação (nunca mais esqueci de ir de roupa às sextas feiras).
                E apesar de ter sofrido uma série de limitações; por a escola ser pequena, pela inexistência e até mesmo pelo desconhecimento das “tias” sobre a educação física para o desenvolvimento das habilidades básicas, para a composição da expressão corporal da criança; eu até que tive um bom desenvolvimento dessas capacidades motoras.
               Ao fim dessa fase, da pré-escola, mudei de colégio, passei por um processo de transformação e adaptação. A escola na qual passei a estudar era religiosa, era um colégio de freiras, e como não podia deixar de ser, tinha princípios e métodos um tanto quanto rígidos e tradicionais, não se podia fazer muita coisa sem que se levasse uma bronca, fosse para a coordenação, para que se ficasse de castigo. Os bons alunos não eram aqueles que efetivamente aprendessem os assuntos, que tivessem um senso crítico e que questionassem o professor, mas sim, aqueles que tirassem boas notas (mesmo que não tivessem aprendido nada), que não conversassem durante as aulas, que não questionassem, não se podia nem colocar os pés naquele estrado que fica em baixo das carteiras.
                Eu no meio de tanto não e sob as ameaças do meu pai de me mandar para um colégio interno procurei sempre me enquadrar dentro do perfil do bom (excelente) aluno. Toda esta estrutura da escola, em nome da ordem e do bom aprendizado me lembra a historinha da “Escola de Vidro” da professora Ruth Rocha onde ela relata a estrutura vivida pelos alunos dentro de uma determinada escola, que cerceava todas as potencialidades e criatividade dos alunos e não possibilitava o desenvolvimento cognitivo e motor de forma integrada. Da 1ª à 4ª séries as aulas de educação física baseavam se, quase que exclusivamente, em jogar queimado na praça em frente à escola. Apesar de não gostar muito do jogo, brincava com os meus colegas porque acabava me divertindo, até o dia em levei uma bolada na cara (de um colega bem forte) e cai para trás. Já da 5ª à 8ª séries a educação física limitava-se à prática esportiva (vôlei, futebol e nataçao) e como sempre seguia a mão inversa da maioria das meninas, fui jogar bola. Durante o recreio e na hora da saída as minhas colegas brincavam de elástico e como eu não era muito boa nisso, sempre ficava de fora. O mesmo acontecia quando elas brincavam de patins (na semana da criança) como não tinha e nem sabia andar naquela tranqueira ficava sempre sozinha.
               Assim, fui ficando sempre no meu canto, séria, calada e para não ficar sem fazer nada lia um livro, fazia os deveres de casa, ai ganhei aquela titulação horrível de CDF (só porque tirava boas notas e não gostava de muita folia). Dessa época da escola os momentos que sinto mais falta são das festas juninas e dos jogos internos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - I

             Até agora, sempre passei aqui pra falar um pouco sobre a Educação Física, as minhas experiências em sala de aula, textos encontrados na internet, trabalhos realizados ainda na Universidade, e assuntos afins.
             No entanto, agora sinto a necessidade de falar um pouco sobre mim, sobre as minhas ações e sobre as ações de terceiros que me fizeram enveredar pela Educação Física, sobre as minhas experiências com a Educação Física não mais como professora e sim como aluna, tanto na universidade, quanto na escola ainda.
             Decidi iniciar essa nova fase de postagens com um trabalho que a professora de Metodologia do Ensino da Educação Física pediu para que fizéssemos uma vez, por sinal talvez tenha sido a melhor coisa da disciplina, porque de metodologia mesmo não aprendemos nada, mas isso também não vem ao caso.
             Ela pediu para que escrevêssemos sobre nós, sobre o que fizeram com o nosso corpo durante a nossa vida, ações que libertam ou que reprimem nossos desejos e que acabam por moldar a nossa personalidade, uma reminiscência acerca de fatos ocorridos em nossas vidas e pudessem dar pistas e deixar marcas determinantes sobre nós até aquele momento. 
               Creio que tenha sido um trabalho muito importante para todos naquele momento. Ora, como trabalhar com as pessoas, como entender os seus movimentos, como possibilitar o desenvolvimento e o envolvimento de todos durante uma aula sem que possamos entender que, cada indivíduo tem uma história e que cada um leva-a no próprio corpo e que se expressa sobre a forma de movimento?
                Assim, a partir de hoje começo a postar o meu exercício de reminiscência, aos poucos, para não ficar muito extensa e cansativa a leitura.

               Eu nasci em Santo André-SP e é de lá que tenho as melhores e maiores recordações da minha infância. E apesar de não me recordar da minha primeira infância (que vivi lá), antes da minha entrada na escola, sempre escutei as historias e vi fotos dessa época da vida, o que me permite agora tentar refletir, e pensar sobre o que fizeram com o meu corpo nesse período de tempo. Quando nasci, eu era filha, sobrinha e neta única e acredito que este fato tenha favorecido o meu desenvolvimento. A atenção, o estímulo e o trabalho para que eu pudesse aprender a andar, falar e desenvolver algumas habilidades motoras básicas foi sempre presente. Minha mãe me diz que apesar de eu ter sido sempre bem calma, eu gostava de cantar e dançar junto com a minha tinha enquanto ela arrumava a casa, brincava com o balde de pregadores, com as bonecas, batia as tampas das panelas no chão e na hora de repor as energias gastas durante o dia, me lambuzava toda quando comia aquela comidinha da vovó. Acredito ter sido essa época, o tempo em que fui e que me deixaram ser realmente criança, fase em que me descobri e experimentei o meu corpo como um todo.