sábado, 18 de setembro de 2010

O Papel da Memória na Aprendizagem Motora


Trabalho realizado nos tempos da faculdade durante a disciplina Aprendizagem Motora

Por: Carolina Rezende

1-Introdução.


A aprendizagem de habilidades motoras é caracterizada pela modificação sistematizado comportamento, por efeito da prática ou experiência adquirida pelo individuo. A aprendizagem motora se dá, sob as diferentes necessidades do indivíduo, da memorização , do desejo de aprender e da sua memória , ou seja , da sua capacidade de armazenar informações adquiridas anteriormente , decorrente das atividades dos vários estágios de processamento de informações . Este processamento de informações é composto pelos seguintes estágios : estagio perceptivo , que detecta e identifica o estímulo; estagio de decisão , seleciona a resposta ; estagio efetor , onde há a programação e a organização da resposta e é iniciada a ação. Podemos utilizar como exemplo, a situação em que encontra-se o goleiro de futebol no instante da cobrança de um falta . Quando o jogador bate a falta , o goleiro percebe, através da visão, que a bola está em movimento e identifica a direção da bola . Então decide para que lado ele vai se locomover é só a partir daí que ele vai executar a resposta selecionada.

É a partir desses vários estágios que podemos identificar os três sistemas de memória e perceber como se dá a aprendizagem de novos movimentos.

Em todo o processo de aprendizagem motora é importante destacar a memória como um todo, seus sistemas, seu funcionamento como melhora-la etc...É sobre isso que procuraremos abordar com esse texto.

2- Memória.

2.1-Conceito.

Representado pela figura mitológica grega, Mnemosina, e originária do vocábulo museu significa lugar onde se guardam coisas merecedoras de preservação é onde tem origem o significado da palavra memória. É a partir dai que podemos ter a clara idéia de seu significado.

A memória é a capacidade de conservar informações vistas anteriormente, ou a capacidade de recuperar estas informações para um uso posterior. Tem grande importância na nossa vida, pois, sem ela não existiria antes nem depois. Não seriamos capazes de recordar os rostos das pessoas que vimos no dia anterior, então a mesma pessoa que víssemos ontem não seria igual ao da mesma se a víssemos hoje. A memória é resultado dos estágios seqüenciais do processamento de informação, visto anteriormente.

2.2- A estrutura da memória.

Também conhecida como sistemas de memória, a estrutura da memória está assim dividida: armazenagem sensorial de curto prazo, memória de curto prazo e memória de longo prazo.

·Armazenagem sensória de curto prazo (ASCP): mais periférico ou sensorial, mantém a informação por modalidade (auditiva, visual, tátil) até que o indivíduo a identifique, acredita-se ser limitada na capacidade e extremamente breve em sua duração. Acredita-se que nem todas as informações atingem o nível consciente das pessoas, por isso, resulta em pouca transformação da informação sensorial.

·Memória de curto prazo(MCP ): sistema de memória que permite ao indivíduo o processo de recuperação e de relembrar, transferindo a informação de longo termo, acredita-se ser limitada em capacidade( 7 unidades) e breve em duração ( 30 segundos).

A decisão final em relação a que informação é selecionada para processamento adicional, relaciona-se com a pertinência ou a relevância da informação para a presente tarefa. Podemos manter a informacao na MCP somente enquanto direcionarmos atenção a ela.

A informação esta na memória de curta duração e permanece lá ate que a atenção julgue se essa é

ou não uma informação relevante. Caso a informação seja considerada significativa, será arquivada

na memória de longo prazo, podendo ser utilizada logo que necessária. Caso essa informação seja

considerada irrelevante, a atenção será desfocalizada e, automaticamente, perdida ( esquecida da

memória de curta duração).

Um exemplo de memória de curto prazo é a memória que utilizamos para recordar uma lista de nomes que alguém nos da para memorizarmos e a dizermos após a memorização e a esquecemos logo em seguida.

·Memória de longo prazo ( MLP): sistema de memória que retém informação e experiência, considerada como sendo vasta em capacidade e ilimitada em duração. Espaço de armazenagem para informações muito bem aprendidas.

Quando dizemos que uma pessoa realmente aprendeu alguma coisa, queremos dizer que essa pessoa, de alguma maneira processou a informação na MCP e a transferir para a MLP, ou seja, programar planos motores para ação na MCP e armazenar na MLP para uma execução posterior.

2.3- Processos de controle em memória.

Processos de controle em memória são aqueles aspectos da memoria sob o controle direto do indivíduo , ou seja, o seu acesso depende somente da pessoa . Três desses processos são o armazenamento, a organização e a recuperação da informação.

O armazenamento de informações consiste em codificar a informação que pretendemos reter na memória, ou seja, transformar a informação a ser lembrada em espécies de “pistas”, dicas a fim de facilitar o armazenamento. A organização consiste em classificar, agrupar os dados em unidades menores, por cor, forma etc..., vejamos o seguinte exemplo :

Quando precisamos aprender uma parte de um dialogo ou uma lista de termos, vamos geralmente

dividir estas seqüências longas de palavras em grupos mais curtos e mais fáceis de manusear. A

medida que nos exercitamos, organizamos estes grupos em unidades maiores. ( MAGILL,1984,

p112).

A recuperação é um processo de controle que está relacionado à eficiência dos processos de armazenamento e de organização, ou seja, durante o processo de busca, o armazenamento e a organização da informação terá que estar muito bem consolidadas pelo indivíduo.

2.4- Esquecimento

O esquecimento é uma falha na retenção ou na evocação dos dados da memória e pode ocorrer com qualquer pessoa . A principal questão no que se refere ao esquecimento é saber sua causa. A credita-se haver duas causas que possibilitem o esquecimento , uma é a deterioração dos traços de memória , outra é a interferência de novos conhecimentos na memória.

O desuso provocaria um enfraquecimento dos circuitos da memória, conforme o modelo conexionista, tornando cada vez mais difícil o acesso a essas informações. “Tudo o que fica gravado na memória, seja um numero de telefone ou o cheiro de uma flor, depende de mudanças nos padrões das chamadas sinapses – conexões entre os mais de 100 bilhões de neurônios existentes no cérebro” (Revista GALILEU, 2002, p32).

Um novo aprendizado, também pode provocar um processo de interferência na memória, uma vez que este pode assemelhar-se com uma informação já existente. Outro fator que pode provocar interferência é o excesso de informações e o pouco tempo de que as pessoas dispõem para processa-las.

Doenças degenerativas, também são causas do esquecimento. Uma das mais temíveis, por ainda não haver possibilidade de cura, é o mal de Alzheimer. O mal de Alzheimer ocorre pela morte progressiva dos neurônios. A pessoa portadora dessa doença apresenta os seguintes sintomas: perda das funções cognitivas, ou seja, torna-se incapaz de realizar simples tarefas, como dirigir ou se locomover. O paciente, ainda sofre com alterações comportamentais, como tristeza, solidão, ansiedade, depressão. No Brasil o mal de Alzheimer afeta cerca de 1,5 milhão de pessoas, e o seu diagnostico ocorre por eliminação, através de exames descarta-se a possibildade de outras doenças.

2.5- Prevenir dificuldades e estimular a memória.

Concentrar-se, esta é a principal maneira de fazer com que a informacao fique gravada por mais tempo na memória, pois, quando nos concentramos, a informação é bem processada , fortalecendo as sinapses. Para desenvoler a capacidade de concentração, fortalecer as sinapses e a memória e estimular o cérebro, a receita ideal é ler.

Além da leitura é superimportante ter uma boa noite de sono, pois, o cérebro também precisa descansar; uma boa alimentação é fundamental para o funcionamento da

memória ( alimentos ricos em tiamina , vitamina B12, estão presentes no pão cereais frutas e verduras) e a prática de exercícios físicos , que aumentam o fluxo sanguíneo no cérebro o que deixa a pessoa mais alerta.

Algumas outras coisas podem ajudar a estimular a memória, como: deixar a agenda de lado e procurar guardar as informações na memória, estratégias para guardar nomes, datas, lugares, repetir informações recentemente memorizadas, a repetição ajuda na conservação da informação na memória.

3- Conclusão

Na educação física é pertinente destacar a importância da memória para o aprendizado de novas habilidades motoras. A memória dentro deste contexto está dividida em duas partes. A primeira, corresponde ao seu processo de formação e fortalecimento. A segunda, ela ja encontra-se formada e consolidada, podendo, no entanto, passar por um processo de esquecimento.

Ao iniciar uma atividade física o aprendiz tem como modelo o professor, o aluno ainda esta em fase de processamento da informação passando por um estagio cognitivo para a execução de movimento, onde repensar a execução da ação é muito importante.É nesse momento que podemos observar a memória de curto prazo, se enquanto o aluno estiver preparando para realizar a atividade, ocorrer algum tipo de interferência ou se passar uns minutos ate que ele possa executar a atividade, pode ocorrer de o movimento não sair completamente correto.

Entretanto, após algum tempo de prática, aluno já é capaz de executar o movimento corretamente, sem nenhum auxilio do professor e mesmo que após alguns anos tenham se passado e que não se lembre como o movimento é executado, após ver alguém o fazendo ele também será capaz de executar corretamente a atividade.É a partir de então, notamos a memória a longo prazo formada e consolidada.

4-Referencias Bibliográficas

GODOY, Roberto. Revista Espaço Acadêmico . Ano1.nº2. 2001.

GRECO, Pablo J. & BENDA, Rodolfo N. Iniciação Esportiva Universal: da aprendizagemmotora ao treinamento técnico. Belo Horizonte:UFMG, 2001.

Instituto EDUMED, 2003.

LOPES, Denise Remiao. Descobertas históricas sobre a memória humana. Porto Alegre:

MAGILL, Richard. Aprendizagem Motora : conceito e aplicações. Trad. Erik Gerhard Kanitzch. São Paulo:Edgar Blucher, 1984.

REVISTA GALILEU.São Paulo.2002

SCHIMIDT, Richard A. Aprendizagem e Performance Motora: dos Princípios à Prática. Trad. Flávia de Cunha Bastos et alli. São Paulo: Movimento, 2ª ed. 1993.

http: // www.canalkids.com.br

http: // www.einstein.br/psicologia/geral

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Entrevista com Marcos Neira sobre o papel da Educação Física nas escolas

Para o especialista da Universidade de São Paulo, a função da disciplina é investigar como os grupos sociais se expressam pelos movimentos.

MARCOS GARCIA NEIRA "As aulas de esportes, jogos, lutas e danças não se esgotam na prática. É preciso refletir sobre essas manifestações para entendê-las de fato."


Fonte: Revista Nova Escola
Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@abril.com.br)
Foto: Marina Piedade

De todas as disciplinas do Ensino Fundamental, provavelmente a Educação Física foi a que sofreu transformações mais profundas nos últimos tempos. Mudanças pedagógicas e na legislação fizeram com que até mesmo sua missão fosse questionada. Se até a década de 1980 o compromisso da área incluía a revelação de craques e a melhoria da performance física e motora dos alunos (fazê-los correr mais rápido, realizar mais abdominais, desenvolver chutes e cortadas potentes), hoje a ênfase recai na reflexão sobre as produções humanas que envolvem o movimento. Se antes o currículo privilegiava os esportes, hoje o leque se abre para uma infinidade de manifestações, da dança à luta, das brincadeiras tradicionais aos esportes radicais. Ecos da perspectiva cultural, que domina pesquisas e ganha cada vez mais espaço nas escolas.

Considerado um dos principais investigadores dessa tendência, o professor Marcos Garcia Neira, da Universidade de São Paulo (USP), defende que a principal função da Educação Física escolar é analisar a diversidade das práticas corporais da sociedade - mesmo as consideradas mais polêmicas, como danças do tipo funk e axé. Amparado por 17 anos de docência na Educação Básica e pela participação na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e das Orientações Curriculares do município de São Paulo, Neira discute essa questão provocadora e avalia os principais desafios da disciplina.

Por que a Educação Física mudou tanto nos últimos anos?
MARCOS GARCIA NEIRA
Foi uma mudança que acompanhou uma série de outras transformações. Na sociedade, grupos que não tinham sua voz ouvida ganharam espaço, o que impactou o currículo. A escola, antes voltada apenas para o conhecimento acadêmico ou a inserção no mercado, passou a visar a participação do aluno em todos os setores da vida social, o que mexeu com os objetivos da área. E a própria legislação, que desde a década de 1970 apontava um compromisso com a melhoria da performance física e a descoberta de talentos esportivos, foi substituída em 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que propõe que a Educação Física seja parte integrante da proposta pedagógica da escola.

Na prática, quais foram as principais transformações?
NEIRA Eu acredito que a Educação Física passou a ser reconhecida como um componente importante para a formação dos alunos. Antes, eram comuns as aulas fora do período regular, as dispensas por motivos médicos ou a substituição por atividades pouco relacionadas com a área, como conselhos de classe, por exemplo. Tudo isso colaborou para construir, na cabeça de alunos e professores, a representação de uma disciplina alheia ao projeto escolar, que servia apenas como recreação ou passatempo e não tinha nenhum objetivo pedagógico. Hoje, essa concepção não é mais dominante.

Qual é o objetivo da Educação Física escolar hoje?
NEIRA É o mesmo objetivo da escola: colaborar na formação das pessoas para que elas possam ler criticamente a sociedade e participar dela atuando para melhorá-la. Dentro dessa missão, cada disciplina estuda e aprofunda uma pequena parcela da cultura. O que a Educação Física analisa é o chamado patrimônio corporal. Nosso papel é investigar como os grupos sociais se expressam pelos movimentos, criando esportes, jogos, lutas, ginásticas, brincadeiras e danças, entender as condições que inspiraram essas criações e experimentá-las, refletindo sobre quais alternativas e alterações são necessárias para vivenciá-las no espaço escolar.

Como deve ser uma aula ideal?
NEIRA Certamente não deve ser a do tipo "desce para a quadra, corre, corre, corre, sua, sua, sua e volta para a sala". A Educação Física proposta na escola não pode ser a mesma proposta em outros espaços. Se é apenas para o aluno se divertir, existem lugares para isso - ginásios públicos e centros comunitários, por exemplo. Se é somente para aprender modalidades esportivas, melhor procurar um clube ou uma academia. A escola não serve para formar atletas, mas para refletir e entender as manifestações culturais que envolvem o movimento.

Um exemplo concreto: como abordar o futebol nessa perspectiva?
NEIRA O trabalho pode começar com a turma experimentando jogar futebol, mas não pode parar por aí. A vivência de qualquer modalidade na escola exige reflexão e adaptação. Propondo uma pesquisa, é possível levar os alunos a conhecer outros tipos de futebol - de campo, de quadra, de areia, feminino -, conhecer quem pratica o esporte hoje, como se jogou no passado e como se pode jogar na escola. É importante que eles saibam, por exemplo, que o esporte já foi praticado sem juiz, que os atletas não tinham números na camisa e que o pênalti era cobrado de outra maneira. Com base nessas informações, voltam à prática já atentos a novas questões: é preciso arbitrar os jogos? Como fazer meninos e meninas participar simultaneamente? E as crianças com deficiência?

Apesar de a disciplina ter se tornado mais reflexiva, as atividades práticas continuam sendo importantes?
NEIRA É claro. A vivência segue sendo fundamental porque é somente por meio dela que a turma sente a necessidade de fazer adaptações, algo presente em todas as modalidades. Afinal, elas se transformam conforme "conversam" com a sociedade. O voleibol, por exemplo, mudou seu sistema de pontuação principalmente para se adaptar às transmissões de TV. Essa lógica vale para todas as manifestações corporais, mesmo as mais lúdicas. Quando alguém brinca de pega-pega na rua, brinca de certo jeito. Quando vai brincar com 35 crianças na escola, precisa adaptar a atividade para que ela funcione.

Campeonatos e festivais esportivos continuam tendo espaço?
NEIRA Particularmente, acho que montar uma seleção com seis a 12 alunos e deixar 300 sem aula para disputar uma competição é fabricar adversários. Não podemos partir do pressuposto de que um pequeno grupo vai ser privilegiado e participar da atividade enquanto a maioria vai apenas torcer, ou nem isso. Agora, se os educadores consideram a competição algo importante, é possível, sim, organizar eventos, mas de uma perspectiva diferente. Sugiro, por exemplo, combinar de levar uma turma de 5ª série para jogar com a de uma escola próxima, negociar regras, fazer todo mundo participar da experiência e realizar uma avaliação conjunta depois, discutindo o que os jovens acharam da atividade e como melhorá-la numa próxima vez.

Como lidar com crianças que demonstram especial habilidade em alguma modalidade esportiva?
NEIRA Devemos estimulá-las a prosseguir. Entretanto, o lugar para continuar com o trabalho não pode ser a escola, mas instituições especializadas para a prática esportiva. A escola tem como função ajudar a compreender o mundo e sua cultura. Não há como desenvolver um projeto esportivo se o que se pretende é contemplar todos os alunos.

Alguns países, como Estados Unidos e Inglaterra, usam as escolas como base para revelar atletas. Isso pode ser uma alternativa para o Brasil?
NEIRA O incentivo ao esporte visando a participação em eventos internacionais já foi a política oficial da Educacão Física em nosso país na década de 1970. Não deu certo. Ainda que algumas nações vejam na disciplina uma forma de aprimorar o desenvolvimento motor e físico, esse enfoque competitivo e as atividades de treinamento costumam ocorrer em momentos extra-aula.

Como saber quais esportes, jogos, lutas, danças e brincadeiras devem fazer parte do currículo?
NEIRA O ponto de partida é sempre o diagnóstico inicial. O interessante é que esse mapeamento do patrimônio cultural corporal da turma - as práticas ligadas ao movimento que os alunos conhecem ou realizam - revela uma realidade mais diversificada do que imaginamos. A garotada brinca de esconde-esconde, conhece skate pela TV, tem algum parente que pratica ioga e conhece malha ou bocha porque os idosos jogam na praça. É possível ainda fazer outros mapeamentos. O professor pode passear pelo bairro observando manifestações corporais e equipamentos esportivos. Há academias ou ruas de caminhada, por exemplo?

Mas é preciso escolher algumas práticas no meio de tanta diversidade. Como fazer isso?
NEIRA
Antes de mais nada, é fundamental ter em mente as finalidades do projeto pedagógico da escola - devemos lembrar que a Educação Física não pode ser uma prática alienada. Além disso, a perspectiva cultural da disciplina considera quatro princípios importantes na definição do currículo. O primeiro é que a matriz de conteúdos deve dialogar com todos os grupos que compõem a sociedade - e trabalhar só com esportes modernos contradiz esse princípio. O segundo é a noção de que o aluno precisa enxergar na sociedade as manifestações que está estudando. O terceiro é entender e respeitar as possibilidades de cada estudante, evitando, por exemplo, as avaliações por performance. E o quarto é o professor repensar constantemente a própria identidade cultural para aperfeiçoar o currículo.

Qual deve ser a postura da escola quando a cultura corporal dos alunos inclui danças como o funk e o axé?
NEIRA Não devemos fechar os olhos para essas manifestações, pois podem ser danças que os estudantes cultuam fora da escola. Isso não significa que devemos ficar apenas com aquilo que eles conhecem. Se o professor focar só os aspectos superficiais do funk e do axé, ensaiando coreografias, por exemplo, não estará cumprindo seu papel. Por outro lado, um trabalho crítico ajuda as crianças a analisar e interpretar o que são essas danças, contribuindo para que elas conheçam a própria identidade cultural e entendam quem são. A chamada cultura de chegada dos estudantes é um bom ponto de partida para um trabalho em direção a uma cultura mais ampla. A escola deve sempre fazer essa ponte entre o repertório conhecido e o desconhecido.

Como isso funciona na prática?
NEIRA É preciso transformar o conhecimento dos alunos em objeto de análise e investigação pedagógica. Considero válido, por exemplo, um projeto que aborde o funk e o axé no contexto de outras danças contemporâneas, estudando as letras, entendendo o que está embutido nelas, as práticas interessantes ou desinteressantes que acompanham essas manifestações. Em seguida, é possível convidar dançarinos ou trazer vídeos para apresentar outras danças, ampliando o repertório da turma. É um trabalho multicultural porque considera diversos tipos de prática corporal, mas é um multiculturalismo crítico porque questiona e analisa cada uma delas.

Como desenvolver o senso crítico?
NEIRA Comparando, indagando e aprofundando conteúdos para que a turma reflita. Depois de pular amarelinha, pense por que existem as "casas" do céu e do inferno. Durante o estudo dos exercícios físicos, reflita por que a academia se transformou numa espécie de espaço sagrado da saúde se as qualidades físicas alcançadas por lá também são obtidas, de graça, no parque. Uma Educação Física que trabalha apenas com o movimento não constrói esse senso crítico.


Quer saber mais?

CONTATO
Marcos Garcia Neira


BIBLIOGRAFIA
Cultura Corporal: Diálogos entre Educação Física e Lazer, Marcos Garcia Neira e Ricardo Ricci Uvinha, 88 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 14,80 reais
Ensino de Educação Física, Marcos Garcia Neira, 232 págs., Ed. Thomson Learning, tel. (11) 3665-9900, 39,90 reais
Pedagogia da Cultura Corporal: Crítica e Alternativa, Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes, 296 págs., Ed. Phorte, tel. (11) 3141-1033, 29 reais





terça-feira, 14 de setembro de 2010

Conheça o trabalho de uma escola que adapta as aulas de educação física para deficientes


Alunos de escola da zona sul de São Paulo participam de todas as atividades na aula, mesmo com limitações físicas

Atender às necessidades de todos os alunos e descobrir suas potencialidades são os grandes desafios do professor. “Eu não gosto de ver ninguém parado. Se vejo alguém desanimado já coloco para fazer alguma atividade e vou observando para perceber o que ele gosta de fazer para estimular”, diz a professora de educação física do Colégio Adventista de Interlagos, na zona sul da capital paulista, Maria Conceição Moreira Lopes.


Dessa forma, descobriu que um de seus alunos, que detestava jogos coletivos com bola, era ótimo para provas de atletismo; viu que um estudante alto era péssimo em basquete, mas era tão bom em vôlei que agora, aos 17 anos, já ganha R$ 3 mil em um clube para jogar profissionalmente.


Mas em 2005, Maria da Conceição encontrou um desafio diferente: fazer toda a sua classe do 5º ano se adaptar às limitações da aluna Mônica Guimarães, portadora de deficiência motora, causada por hemorragia cerebral ocorrida no nascimento prematuro, aos seis meses de gestação da mãe.


Mônica, desde que chegou à escola, nunca deixou de participar das atividades em quadra. “A professora sempre me incluiu em tudo. Quando era futebol, eu jogava com a muleta e ela me segurava por trás, para não cair. Ela e os meus amigos ajudavam a empurrar a cadeira para eu jogar basquete. Era eu quem sacava no vôlei, nunca fiquei de fora de nada”.


A adaptação da aula foi gradual. Para o basquete, no ínicio, foi usada a bola mirim, mas em pouco tempo a oficial foi adotada. Com o vôlei, a bola de EVA (material leve, semelhante a um emborrachado) facilitava o saque. No futebol, Mônica era a única que podia usar algo além do pé. “Eu podia chutar com a muleta”, conta.


A aluna enfrentou apenas um obstáculo: o ciúme de alguns colegas que achavam que ela recebia mais atenção que o resto da classe. Para resolver esse problema, Maria da Conceição levou a todos para ver uma realidade mais impactante ainda que as limitações de Mônica. “Eu levei a classe toda para conhecer a AACD (Associação de Assistência da Criança Deficiente). Eles viram casos mais difíceis, como um garotinho que precisava de um skate para se locomover, pois não tinha pernas. Eles ficaram bastante tocados e entenderam melhor a situação da Mônica”, lembra.


Adaptação precoce


Maria da Conceição, neste ano, tem mais dois alunos com limitações. Dudu, do 3º ano, tem atraso cognitivo, mas sem deficiências físicas. Recebe a ajuda dos amigos para fazer as atividades e eles, segundo a professora, “nem percebem que estão fazendo algo adaptado”. “Todo mundo participa, leva o Dudu para cá, para lá e nem percebe que a aula está diferente".


Outro caso é o de Márcio, do 2º ano, deficiente auditivo. Com ele, Maria da Conceição teve uma experiência diferente. “Disseram que o aluno não ouvia nada, mas eu apitava durante a aula e ele virava para ver. Achei estranho e falei para a mãe, que o levou para fazer mais testes e descobriu que tem um pouquinho de audição. Hoje o Márcio usa aparelho nos dois ouvidos e consegue ouvir alguns sons”.


Como a deficiência do aluno não o impede de praticar qualquer exercício, Maria da Conceição precisa apenas passar as instruções das atividades com ele posicionado à sua frente e confirmar se ele entendeu tudo o que ela disse, sem necessidade de adaptação.


Exceção


Pesquisa realizada pela professora de educação física Marcia Greguol Gorgatti para sua tese de doutorado mostra que as escolas do sistema regular não estão preparadas para atender alunos com deficiência física.


A pesquisa mostra também que 48% dos professores não gostam de receber alunos com deficiência, pois se sentem despreparados para atender as necessidades especiais destes alunos.


Maria da Conceição se deparou com um problema deste tipo na escola. Em 2004, o colégio contava com a presença de um aluno cadeirante, Denis, que participava da aula apenas apitando as partidas em que os amigos atuavam.


“Um dia, estávamos fazendo uma atividade no pátio, a minha turma e a do professor que tinha este aluno com deficiência. O exercício envolvia uns colchões e começamos a brincar de colocar um aluno deitado neles para que dois carregassem. A gente pegou o Denis e carregou pelo pátio inteiro. Foi uma diversão enorme para ele, que nunca tinha participado de nada”, lembra.


Depois desse episódio, o professor de Denis passou a envolvê-lo nas atividades e, no ano seguinte, foi a vez de Maria da Conceição receber Mônica e aprender com ela. “Eu fiz vários cursos, sempre que a coordenadora pedagógica descobre um relacionado a trabalho com crianças especiais eu vou, mas a gente aprende muito com eles também.”


POR: Carolina Rocha

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O que se aprende com a Educação Física?


Fonte: Abril.com.br



Educação Física não é só recreação e jogo de bola. Conheça as lições que é possível tirar da disciplina

Pelé, Romário, Ronaldo, Zico, Hortência, Oscar, César Cielo, Bernardinho, Marta, Guga... Quem não sonha em ser um atleta peso-pesado? Ou em ter um campeão desses na família? Mas não é apenas de medalhas de ouro e prata que o esporte é feito. Pesquisas mostram que apenas 0,26% da população tem aptidão para se tornar esportista de renome. Mas nem por isso a Educação Física deve ficar de escanteio. As aulas aplicadas na vida escolar das crianças e jovens brasileiros podem não fazer ídolos esportivos, mas desenvolvem muitas habilidades importantes.

Desde o Ensino Infantil até o fim do Ensino Médio as aulas de Educação Física fazem parte do cotidiano dos alunos das escolas públicas e privadas do Brasil. Para a maioria das pessoas, o tal senso comum, a finalidade única da disciplina é fazer exercícios e ensinar regras de diferentes modalidades de esportes. Mas é muito mais do que isso. Além dos benefícios físicos da prática esportiva, a Educação Física pode desenvolver competências e habilidades sociais, psicológicas, motoras e cognitivas!


Na Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, faz parte do plano pedagógico de Educação Física transmitir por meio das atividades valores éticos. "Nosso trabalho é voltado para práticas que, além de melhorar funções metabólicas, e de conscientizar os alunos da importância do cuidado com o corpo, procuram desenvolver um senso de coletividade buscando uma convivência solidária e positiva", diz Washington Nunes, Coordenador de Esportes.


Essa concepção do ensino de Educação Física parte de um conceito que entende o ser humano como um animal estruturado por corpo, razão e emoção. Em consonância com essa filosofia, a UNESCO – organização de cultura, Educação e ciência das Nações Unidas – estabeleceu quatro pilares que devem fundamentar a Educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. "Uma boa Educação deve ensinar o aluno a aprender, a agir e a se relacionar. Precisa englobar esses 4 pilares da UNESCO. E isso vale para qualquer disciplina, inclusive a Educação Física", diz Alcir Ferrer, professor de Educação Física e treinador de basquete juvenil do Club Athletico Paulistano, de São Paulo.


Conheça melhor algumas competências que crianças e jovens podem desenvolver com a Educação Física:


1 - Desenvolver habilidades cognitivas


Várias habilidades como raciocinar, planejar, exercitar a memória, compreender situações, linguagens e estratégias e resolver problemas precisam ser desenvolvidas. A melhor fase para trabalhar essas capacidades do aprendizado (cognitivas) é na infância. Embora as habilidades motoras sejam o aspecto aparente mais trabalhado, é possível estimular o raciocínio por meio das atividades. "A brincadeira também produz conhecimento, é onde a criança aprende com prazer sem saber que está aprendendo", explica Cynthia Tibeau, mestre em Educação Física pela USP e Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC. Em brincadeiras de arremesso com bola, por exemplo, pode se exercitar a precisão de movimentos e a memorização.


2 - Respeitar o corpo


Uma boa aula de Educação Física deve mostrar, antes de mais nada, a importância de se ter um corpo saudável, com habilidade para executar movimentos. Ela deve mostrar também como os exercícios físicos, praticados de forma correta, sem exageros, podem ajudar nesta empreitada. Na fase da adolescência essa conscientização deve ser ainda mais trabalhada. Deve ficar claro que a malhação não pode ter como única finalidade a estética. "O aluno do Ensino Médio não tem paciência para a Educação Física. Ele busca outras coisas como ficar sarado. Nem todo professor de academia está preparado pra orientar corretamente os exercícios. E às vezes chega a recomendar certos suplementos perigosos", diz Cynthia Tibeau, mestre em Educação Física pela USP e Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC.


3 - Aumentar a autoestima


Do ponto de vista físico, o exercício libera hormônios que causam bem-estar. Do psicológico, aumenta a confiança e diminui a timidez. A professora Meico Fugita, doutora em aprendizagem motora, trabalhou durante 16 anos na EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, uma escola na comunidade de Heliópolis e testemunhou alguns casos de superação pelo esporte. Um garoto que aos 15 anos ainda não sabia ler, com péssimo desempenho escolar, encontrou no atletismo um meio de recuperar sua autoestima. Como? "Quando ele se deu conta de que com esforço e trabalho diário poderia evoluir no esporte ganhou mais confiança no resto da vida", conta a professora. O esporte surgiu na vida do garoto como uma nova possibilidade, mas mesmo não se tornando um atleta, a nova perspectiva foi positiva. "Com esse aumento da autoestima ele ficou mais responsável na escola e mudou seu comportamento", contou Meico.


4 - Trabalhar o equilíbrio emocinal


Ganhar, perder, errar, jogar com a incerteza... são situações comuns na vida. A boa Educação Física deve desenvolver o controle psicológico dos alunos sob a adversidade. "A pessoa precisa aprender a lidar com o sucesso e o fracasso". A dica é da psicóloga esportiva Regina Brandão, especialista em preparar equipes vencedoras. Grande parte do sucesso da seleção brasileira campeã do mundo em 2002 se deve ao trabalho de Regina. A psicóloga ajudou o técnico Luís Filipe Scolari, o "Felipão", na preparação emocional dos atletas. O mesmo tipo de trabalho pode - e deve - ser feito nas aulas de Educação Física. Afinal de contas, não é só no esporte que precisamos ter controle. Mas como isso pode ser trabalhado nas aulas? "É preciso criar situações em que os alunos tenham de lidar com a frustração. Terminar um jogo assim que uma equipe faz um ponto a mais, e até montar times mais fortes que o outro, propositalmente", diz Verena Pedrinelli, Doutoranda em Educação Física e Diretora de Esportes da Special Olympics.


5 - Reconhecer o outro e saber compartilhar


Uma das primeiras coisas que se aprende na escola é a lidar com a existência do outro - o colega, o professor, o funcionário. Aquele outro ser que não satisfaz os desejos prontamente. Esse reconhecimento não é fácil pois, nos primeiros anos do ensino infantil e fundamental, as crianças ainda passam por um período conhecido como egocentrismo infantil. "Quando nascemos somos cercados de cuidados por nossos pais. Não é de se estranhar que as crianças pensem que são o centro do mundo", explica Cynthia Tibeau, mestre em Educação Física pela USP e Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC.


"Nessa fase é importante mostrar para criança a importância de compartilhar as coisas", diz Alcir Ferrer, treinador de basquete do clube Paulistano, em São Paulo. Isso costuma ser feito por meio de atividades recreativas, seguidas de um bate-papo. Um exemplo, utilizado por Alcir, é o "pega-pega corrente". Na brincadeira, quem é capturado pelo pegador dá a mão para ele e passa a pegar os outros junto. Cada um que é pego aumenta a corrente. À medida que o cordão aumenta, a bagunça começa. Quanto maior a corrente, mais desordenada ela fica. "No fim do exercício, eu mostro para eles que a corrente não deu certo porque cada um queria ir para um lado. Com esse exemplo prático fica mais fácil de entender a importância do trabalho coletivo", diz o Professor de Educação Física.


6- Trabalhar em grupo


O ser humano é o animal que mais depende de seu semelhante pra sobreviver. Justamente por isso, precisa estar apto a trabalhar em equipe. Tanto no futebol quanto na vida é preciso aprender a dividir as tarefas e as responsabilidades. Quanto maior a comunicação do grupo, melhor o resultado. Na EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, o trabalho da professora Meico Fugita conseguiu aproximar meninos e meninas em torno do futebol. Normalmente, garotos torcem o nariz quando são forçados a jogar bola com meninas. Na escola, foi diferente. "As meninas estão começando a gostar de futebol, mas têm medo de certos lances como cabecear e matar no peito. Propus aos garotos que ensinassem as meninas a jogar. O resultado foi muito bom", diz Meico Fugita.


7- Desenvolver a autonomia


Tomar decisões, se impor, fazer escolhas, ou seja, saber se virar é indispensável na vida de qualquer pessoa. Por meio da Educação Física é possível envolver os alunos em várias situações que desenvolvem essa competência. "Num jogo de basquete, ou de qualquer outro esporte, o jogador precisa raciocinar rápido para pensar a melhor jogada a ser feita", diz Alcir Ferrer, professor de Educação Física e técnico de basquete do Paulistano, clube de São Paulo.


A autonomia promovida pela Educação Física também pode servir para melhorar o convívio social de deficientes intelectuais. Verena Pedrinelli é mestre em Educação Física e atuou como Diretora de Esportes da Special Olympics, uma instituição esportiva de apoio a deficientes intelectuais. Seu trabalho é voltado para desenvolver autonomia nessas pessoas com inteligência abaixo da média, que têm dificuldades comunicativas, de cuidados pessoais e outras aptidões sociais. Por meio de atividades desafiadoras, que passam do simples ao complexo, Verena estimula seus alunos a agirem por conta própria e serem mais pró-ativos. "Deficientes intelectuais precisam ter opção de escolha e de tomada de decisão, assim como qualquer pessoa". diz Verena.


8- Estimular a criatividade


"O que move o mundo é a criatividade. Se não formos criativos não evoluímos", defende Cynthia Tibeau, mestre em Educação Física pela USP e Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC, especialista em criatividade. Cynthia defende que quanto mais desafiado for o jovem, melhor preparado ele será. "A criança que elabora diferentes formas de fazer uma tarefa tem mais repertório pra enfrentar situações adversas". Para a professora, é muito importante trabalhar movimentos criativos na Educação Física desde o ensino infantil. "Nos primeiros anos do ensino fundamental é necessário trabalhar a diversidade do movimento. Quanto mais você estimular a criança mais ela vai te surpreender", explica. É importante destacar que estimular a criatividade corporal, embora trabalhe em certo grau o raciocínio, não desenvolve todas as áreas da criatividade. "Uma pessoa criativa com o corpo não necessariamente é uma escritora criativa. A criatividade deve ser estimulada em todas as áreas", diz Cynthia.


por Camilo Gomide

Educação Esportiva... é possível?


Renato Sampaio Sadi

O possível esporte é aquele presente na vida da maioria das pessoas. É o esporte de massa, social, popular, democrático, o esporte de todos. Penso que o impossível está relacionado aos esportes espetaculares, fantásticos e monopolizados pelo centro nervoso do sistema global. São esportes impossíveis no acesso já que também são popularizados pelos meios de comunicação.
De fato, podemos tornar o esporte um instrumento democrático para o povo brasileiro por meio de um intenso esforço de parcerias. Com tal possibilidade, podemos também apontar uma nova configuração para o chamado esporte escolar. Este pode ser um conceito restrito, se for considerado apenas o lugar-escola formal; ou amplo, se permitir seu alcance para fora dos muros escolares. A rigor, o esporte escolar pode ser realizado fora da escola, desde que direcionado ao público escolar e vinculado ao projeto pedagógico da escola.
Diferente da televisão o que as crianças e adolescentes vivem na escola, por meio do esporte, é o jogo informal. Tal informalidade, entretanto não significa apenas a brincadeira ou o lazer, mas a experiência acumulada pela humanidade, reproduzida nos saberes escolares que permite à inteligência a socialização de conhecimentos gerais e específicos, a manifestação de expressões múltiplas, individuais e sociais e permite à comunidade, a organização e (re) criação crítica. O esporte escolar pode extrair do jogo informal sua vida útil e assim milhares de estudantes irão praticá-lo, conhecê-lo, produzí-lo.
Entretanto é importante estabelecer uma diferença entre a Educação Física da escola, um componente curricular legal dos sistemas de ensino previsto na Lei de Diretrizes e Bases, artigo 26, de 1996 e o esporte escolar como um complemento das atividades escolares, entendido como um complemento de fundamental importância, estratégico no desenvolvimento humano, na formação da cidadania. Quais as diferenças entre Educação Física e esporte escolar? Sinteticamente a educação física trata do conhecimento da área de cultura corporal que envolve jogo, dança, expressões culturais do corpo e movimento como lutas, yôga, conhecimento de técnicas corporais, capoeira, ginástica além do esporte. O esporte escolar é o espaço da vivência, do fazer com qualidade, da experiência de novas possibilidades. Mesmo assim pode-se perceber uma área comum às duas manifestações, que seria caracterizado pela educação esportiva. Presente nas aulas de Educação Física como um dos conteúdos de ensino e nos momentos do esporte escolar como complemento e incremento de qualidade.
Para tornar essa educação possível é preciso ir além do ensino de regras e técnicas do esporte com a finalidade única da preparação para competições. Educar a sensibilidade, o gosto/prazer pelo jogo, a criatividade-crítica, o aprimoramento da inteligência tática, a organização coletiva, os sentidos das competições, a transformação das notícias esportivas tornando possível uma horizontalização responsável no ensino como construção de um caminho heterárquico é um desafio para aqueles que vivem do esporte.
Na mesma direção é importante considerar os aportes necessários para tal educação. Assim, é possível pensar em equipamentos e materiais de baixo custo e investimentos em formação humana, principalmente nos agentes de ponta, professores e estudantes de Educação Física, monitores e instrutores de esporte.

Autor:

Renato Sampaio Sadi
Docente do Curso de Educação Física da UFG e Coordenador de Esporte Escolar do Ministério do Esporte


***Fonte:

Boletim Brasileiro de Esporte Escolar
Goiânia, Goiás, v. 02, n. 09, setembro de 2005 - ISSN 1807 - 3123
www.esporteescolar.org