terça-feira, 14 de setembro de 2010

Conheça o trabalho de uma escola que adapta as aulas de educação física para deficientes


Alunos de escola da zona sul de São Paulo participam de todas as atividades na aula, mesmo com limitações físicas

Atender às necessidades de todos os alunos e descobrir suas potencialidades são os grandes desafios do professor. “Eu não gosto de ver ninguém parado. Se vejo alguém desanimado já coloco para fazer alguma atividade e vou observando para perceber o que ele gosta de fazer para estimular”, diz a professora de educação física do Colégio Adventista de Interlagos, na zona sul da capital paulista, Maria Conceição Moreira Lopes.


Dessa forma, descobriu que um de seus alunos, que detestava jogos coletivos com bola, era ótimo para provas de atletismo; viu que um estudante alto era péssimo em basquete, mas era tão bom em vôlei que agora, aos 17 anos, já ganha R$ 3 mil em um clube para jogar profissionalmente.


Mas em 2005, Maria da Conceição encontrou um desafio diferente: fazer toda a sua classe do 5º ano se adaptar às limitações da aluna Mônica Guimarães, portadora de deficiência motora, causada por hemorragia cerebral ocorrida no nascimento prematuro, aos seis meses de gestação da mãe.


Mônica, desde que chegou à escola, nunca deixou de participar das atividades em quadra. “A professora sempre me incluiu em tudo. Quando era futebol, eu jogava com a muleta e ela me segurava por trás, para não cair. Ela e os meus amigos ajudavam a empurrar a cadeira para eu jogar basquete. Era eu quem sacava no vôlei, nunca fiquei de fora de nada”.


A adaptação da aula foi gradual. Para o basquete, no ínicio, foi usada a bola mirim, mas em pouco tempo a oficial foi adotada. Com o vôlei, a bola de EVA (material leve, semelhante a um emborrachado) facilitava o saque. No futebol, Mônica era a única que podia usar algo além do pé. “Eu podia chutar com a muleta”, conta.


A aluna enfrentou apenas um obstáculo: o ciúme de alguns colegas que achavam que ela recebia mais atenção que o resto da classe. Para resolver esse problema, Maria da Conceição levou a todos para ver uma realidade mais impactante ainda que as limitações de Mônica. “Eu levei a classe toda para conhecer a AACD (Associação de Assistência da Criança Deficiente). Eles viram casos mais difíceis, como um garotinho que precisava de um skate para se locomover, pois não tinha pernas. Eles ficaram bastante tocados e entenderam melhor a situação da Mônica”, lembra.


Adaptação precoce


Maria da Conceição, neste ano, tem mais dois alunos com limitações. Dudu, do 3º ano, tem atraso cognitivo, mas sem deficiências físicas. Recebe a ajuda dos amigos para fazer as atividades e eles, segundo a professora, “nem percebem que estão fazendo algo adaptado”. “Todo mundo participa, leva o Dudu para cá, para lá e nem percebe que a aula está diferente".


Outro caso é o de Márcio, do 2º ano, deficiente auditivo. Com ele, Maria da Conceição teve uma experiência diferente. “Disseram que o aluno não ouvia nada, mas eu apitava durante a aula e ele virava para ver. Achei estranho e falei para a mãe, que o levou para fazer mais testes e descobriu que tem um pouquinho de audição. Hoje o Márcio usa aparelho nos dois ouvidos e consegue ouvir alguns sons”.


Como a deficiência do aluno não o impede de praticar qualquer exercício, Maria da Conceição precisa apenas passar as instruções das atividades com ele posicionado à sua frente e confirmar se ele entendeu tudo o que ela disse, sem necessidade de adaptação.


Exceção


Pesquisa realizada pela professora de educação física Marcia Greguol Gorgatti para sua tese de doutorado mostra que as escolas do sistema regular não estão preparadas para atender alunos com deficiência física.


A pesquisa mostra também que 48% dos professores não gostam de receber alunos com deficiência, pois se sentem despreparados para atender as necessidades especiais destes alunos.


Maria da Conceição se deparou com um problema deste tipo na escola. Em 2004, o colégio contava com a presença de um aluno cadeirante, Denis, que participava da aula apenas apitando as partidas em que os amigos atuavam.


“Um dia, estávamos fazendo uma atividade no pátio, a minha turma e a do professor que tinha este aluno com deficiência. O exercício envolvia uns colchões e começamos a brincar de colocar um aluno deitado neles para que dois carregassem. A gente pegou o Denis e carregou pelo pátio inteiro. Foi uma diversão enorme para ele, que nunca tinha participado de nada”, lembra.


Depois desse episódio, o professor de Denis passou a envolvê-lo nas atividades e, no ano seguinte, foi a vez de Maria da Conceição receber Mônica e aprender com ela. “Eu fiz vários cursos, sempre que a coordenadora pedagógica descobre um relacionado a trabalho com crianças especiais eu vou, mas a gente aprende muito com eles também.”


POR: Carolina Rocha

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