domingo, 5 de agosto de 2012

Ensino/aprendizagem de esportes coletivos a partir de um jogo de queimada

Renato Sampaio Sadi



                   Elaborar uma plataforma de conhecimentos em pedagogia do esporte envolve necessariamente a complexidade de relações teóricas e práticas e a simplicidade do processo pedagógico de oportunidade, isto é, de chance concreta de acesso ao esporte de qualidade. As experiências e escolhas das crianças são fundamentais e devem ser oportunizados durante a seqüência de aulas, exercícios e atividades diversificadas. Brincadeiras e jogos dos mais variados tipos, dois a dois, três a três com ou sem bola são igualmente fundamentais. Quando o mestre é o jogo, o diretor é o professor e os atores os jogadores, a cena pode se tornar bonita, o complexo se funde com o simples e a apresentação retrata uma vida vibrante. Do teatro para o esporte, já que o artista não brota sozinho, precisa de uma direção firme e convicta na sua possibilidade artística e, ao mesmo tempo, precisa da arte, do espetáculo em si, da experiência da representação, do jogo da vida em movimento, mergulhamos na pedagogia do esporte. Nosso pensamento implica na recordação de momentos de iniciação esportiva das crianças e, nas possibilidades de baixar a ansiedade por resultados imediatos. Isso, em hipótese alguma, significa ausência ou não-diretividade do professor.

             Pensando em oferecer as oportunidades de toque, passe, arremesso, isto é, um maior número de contatos com a bola, elaboramos o jogo de "Queimada com pinos" com o objetivo de incrementar elementos da compreensão de jogos como caminhos para o ensino/aprendizagem dos esportes.

                Para desencadear e difundir as discussões sobre a educação integral, da qual a educação esportiva deve fazer parte, sugerimos aos professores e pais que continuem pacientes quanto aos tempos pedagógicos, ou seja, que continuem desenvolvendo a consciência de um processo pedagógico de médio e longo prazo, oferecendo escolhas de vários tipos à criança. Ao longo da vida precisamos ter oportunidade de experimentar vários esportes, ajustando influências culturais e solidificando conhecimentos variados. Reafirmamos que o objetivo do esporte escolar não deve ser a formação de atletas, mas a formação humana.

                  Nesse sentido formulamos a seguinte pergunta a fim de orientar as discussões deste texto: Como tem sido o ensino/aprendizagem de esportes coletivos para além do ensino de técnicas e táticas? Partimos da orientação geral contida na concepção "Ensinando esportes por meio de jogos" e formulamos a seguinte hipótese: O ensino/aprendizagem de esportes coletivos tem sido marcado por baixa densidade teórico-prática. Embora tenhamos opiniões a respeito do percurso investigativo e de várias práticas docentes, não é nossa intenção esgotar o presente assunto, assim como não temos nenhuma pretensão, nessas linhas de esboçar formulações definitivas sobre o assunto.
                 Partimos, portanto, do eixo teórico-metodológico que indica as seguintes características para o ensino:.
                      O referencial teórico-metodológico do "Teaching games for understanding" dinamizado, no campo do esporte escolar pelas formulações de GRIFFIN, MITCHEEL & OSLIN (1997) serviu como âncora para a discussão aqui apresentada. O modelo é baseado em um sistema de classificação que enfatiza as similaridades táticas dentro dos jogos. Desta forma os jogadores podem compreender (e transferir) melhor os princípios comuns, no que diz respeito à conhecimentos e habilidades dos esportes.
                  Visando tornar simples o ensino e a aprendizagem de esportes para crianças e adolescentes, a abordagem conclui pela necessidade de resolução de problemas na prática dos jogos acompanhada pela criatividade do professor. Com esta estrutura pedagógica adaptamos e desenvolvemos a categoria "jogos de invasão" do modelo americano, a partir de nossas necessidades, pontuando e extraindo os aspectos da criatividade disponível na área de educação física. Para um aprofundamento do tema, a linha de pesquisa "Estudos e investigações sobre o conhecimento criativo dos estudantes e professores de educação física em aulas de esporte escolar" que desenvolvemos na Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás forneceu pistas adicionais constituindo-se em um canal privilegiado de informações, em contínuo processo de construção, desta particularidade que é o esporte escolar.
                    O professor, como peça de articulação de conhecimentos, deve promover um ensino de caráter amplo que envolva aspectos físicos, técnicos, táticos, culturais e sociais. Assumindo um papel estratégico no ensino por resolução de problemas, a cognição passa a ser um elo entre a teoria e a prática do esporte. A cognição é um elemento do processo que não deve se restringir às discussões – perguntas e respostas (professor-alunos) - como parte das ações que ocorrem durante os jogos; a cognição como pensamento no jogo envolve também as necessidades que os alunos tem de perceber e situar as noções corporais e sociais tais como: conhecimento de distâncias nos espaços da quadra; domínio da bola e velocidade; segurança e confiança nas ações motoras. A cognição pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem na medida em que for vista como possibilidade consciente e crítica da situação concreta.
                     Ao verbalizar as variadas ocorrências no jogo, as crianças realizam o pensamento estratégico e direcionam sua base de formação esportiva para uma perspectiva não tecnicista. A autonomia coletiva de respostas e busca de solução de problemas incrementa e encoraja os alunos na compreensão do esporte. Mesmo com um repertório físico e intelectual limitado é possível definir um plano de performances inteligentes que inclui responsabilidade compartilhada e noções fundamentais do esporte.
                          A interação social promovida no jogo pode dar ênfase, de um lado, aos aspectos lúdicos do universo infantil, de outro, aos temas organizados e seqüenciados do planejamento de aulas de esporte escolar. Como um problema do contexto em que emerge múltiplas escolhas e situações, a interação social se transforma em uma ferramenta pedagógica composta pela cognição, habilidades motoras, afetivas e lúdicas. Quando o professor desenha a interação social como campo de vivência e aquisição de conhecimentos fundamentais do esporte, na verdade, visualiza e trabalha com a meta de tornar seu ensino eficaz, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista prático. Assim é possível situar a cognição e os aspectos corporais do jogo como questões inseparáveis (cf. LIGHT & FAWNS, 2003).
                            O jogo, descrito na seqüência, foi criado para auxiliar o ensino de esportes coletivos (handebol, basquete e vôlei, preferencialmente) destinado a crianças de 7 a 12 anos. O jogo "Queimada com pinos" além de oferecer elementos educativos, é um jogo dinâmico e envolvente que atrai pessoas de todas as idades; por apresentar um caráter esportivo, de disputa acirrada, não deve ser visto como simples jogo/brincadeira.
Descrição do jogo
Legenda
Amarelo = Equipe A – Campo de jogo; Verde = Equipe B – Campo de jogo; Amarelo pontilhado = Equipe A = "morto", "reserva" ou "cemitério"; Verde pontilhado = Equipe B = "morto", "reserva" ou "cemitério"; Verde escuro = Cone A; Laranja = Cone B.
  1. Duas equipes dispõem seus jogadores na área de jogo, que pode ser a quadra de voleibol ou uma área de tamanho mais ou menos igual. O número de jogadores de cada equipe não deve ser maior que dez. (ver no gráfico: Equipe A = Cor Amarela; Equipe B = Cor Verde);
  2. Cada equipe indica um jogador para ser o "morto" ou ir para o "cemitério" (área externa à quadra de jogo ou quadra de voleibol, representada pelo pontilhado no gráfico, como no jogo da Queimada Tradicional ou das Queimadas Adaptadas). Quando o primeiro jogador for carimbado/queimado, este jogador que era o "morto", ou estava no "cemitério", "ressuscita" e volta para seu campo de jogo;
  3. Dois cones, um em cada campo de jogo, são dispostos na quadra, envolvidos por uma área circular (esta área pode ser desenhada no chão com giz, ou pode ser utilizado um arco-bambolê). Os jogadores devem defender (proteger) seus respectivos cones sem adentrar na área circular;
  4. O jogo é realizado com duas bolas diferentes: uma, utilizada para queimar pessoas; outra, para acertar (queimar) o cone. O objetivo do jogo é acertar (queimar) pessoas e cones: 
    • a bola utilizada para queimar pessoas não pode queimar o cone;
    • a bola utilizada para queimar o cone não pode queimar pessoas;
    • devem ser utilizadas, preferencialmente, bolas de vôlei, não totalmente cheias (para queimar pessoas) e bolas de borracha (para queimar o cone do adversário);inicia-se o jogo através de sorteio. A Equipe vencedora no sorteio escolhe uma bola e o lado da quadra.
  5. Os jogadores podem passar as bolas livremente entre sua própria equipe, trocando passes de variados tipos, até que algum jogador ou um dos cones seja acertado (carimbado/queimado). Neste momento, o jogo é interrompido:
    1. O jogador queimado desloca-se para o "morto" ou "cemitério", permanecendo no jogo. Jogador da Equipe A vai para a área pontilhada de Cor Amarela; Jogador da Equipe B vai para a área pontilhada de Cor Verde;
    2. Quando o cone é derrubado (carimbado/queimado), a equipe escolhe um jogador da equipe adversária para que este se desloque para a área de seu "morto" ou "cemitério" (pontilhada de Cor Amarela ou pontilhada de Cor Verde, conforme o gráfico); 
    3. Todos os jogadores das áreas de "morto" ou "cemitério" continuam no jogo, tentando carimbar/queimar pessoas e cone, ou seja, não são eliminados;
    4. Se houver carimbadas/queimadas simultâneas (de pessoa e cone ao mesmo tempo), o jogo é interrompido e ambas as jogadas são validadas;
  6. O jogo termina quando todos os jogadores do campo de jogo (quadra de voleibol ou similar) de uma equipe são carimbados/queimados.
Implicações didático-metodológicas
    A queimada tradicional é um jogo lento e quase sempre desmotivante para quem perde chances. Os jogadores carimbados/queimados são excluídos e as lembranças que ficam registradas dizem respeito à gostos amargos relacionados ao esporte. Ao alterar as regras e os eixos centrais da queimada tradicional, transformando-a em "Queimada com pinos" elaboramos diferentes perspectivas para o ensino/aprendizagem dos esportes. A princípio, os esportes coletivos considerados foram o handebol, o basquetebol e o voleibol. Por entender que (1) as habilidades dos esportes são transferidas para outros esportes e (2) o intenso processo de socialização e motivação neste jogo possibilitará novas configurações de necessidades e desejos de ensino/aprendizagem, apresentamos as seguintes modificações: Utilização dos fundamentos passe (handebol e basquetebol) e cortada (voleibol) como condição de ataque (queimada) no jogo.
    A rápida movimentação dos jogadores é possibilitada pelos passes curtos e longos bem como pela dinâmica das duas bolas no jogo. Diante das várias opções para obtenção de ponto (queimada no cone, queimada no adversário, passe, finta, deslocamento, etc) a cognição exigida como ferramenta ativa desempenha papel central. Isso implica na socialização entre os jogadores de informações sobre o posicionamento em quadra. Uma outra exigência bastante conflituosa no início, mas posteriormente assimilada como elemento estratégico, diz respeito à escolha do (a) jogador (a) escolhido para continuar no jogo na área do "cemitério", "morto" ou "reserva". Trata-se de uma ação que pode ser entendida como prêmio para a equipe que derrubou o cone mas que também pode ser utilizada como tática, pela equipe que teve seu cone derrubado.
    Por outro lado, o número de vezes que cada jogador toca na bola é sempre superior aos tradicionais exercícios de passe, arremesso e outros fundamentos que são executados para o treinamento dos esportes. O jogo de "Queimada com pinos" pode favorecer estas habilidades, oportunizando exercícios em situação real. Constituindo elemento integrante da categoria "jogos de alvo" este jogo é um desafio para as crianças em contato com o mundo dos esportes coletivos. Podemos afirmar que, após seu pleno desenvolvimento, consolida-se um processo de ensinar e aprender vários esportes coletivos, como o basquetebol, o voleibol e o handebol.
Considerações finais
    O conteúdo jogo e esporte nas aulas de educação física implica em determinações, significados, atitudes, observações e processos de teor complexo. A complexidade da educação física no campo escolar por si só já representa um desafio para os professores. Pelo fato de haver um elevado desnível entre professores iniciantes e experientes, diferentes aplicações esportivas são experimentadas. Os saberes próprios dos professores como ponto de partida para a mudança de postura e aquilo que entendemos como conhecimento crítico-criativo se apresenta também como um aspecto a ser desenvolvido.
    O jogo de "Queimada com pinos" ao oferecer as condições para o desenvolvimento do esporte não implica em aceitação pura e simples de sua forma projetada. Pode haver adaptações que o tornem ainda mais complexo.
    Discutir o tema ensino de esporte por meio de jogos nos leva a diferentes interesses profissionais e acadêmicos que implicam, por sua vez, em uma formação permanente de cunho crítico-criativo para além dos determinantes tanto do tradicionalismo/tecnicismo quantos da crítica situados nas décadas de 1980 e 1990.
    Assim, a busca pelo rompimento de fragmentações e a aposta na perspectiva de totalidade da compreensão do jogo como a primeira base do esporte, torna-se um desafio permanente. Por fim, superar os condicionantes do agir docente e discente em direção a novas formas metodológicas do esporte não pode ser apenas um modismo. Trata-se de um direito dos alunos e de uma necessidade dos professores.
Referências bibliográficas
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  • DUCKER, L.C.B. Em busca da formação de indivíduos autônomos nas aulas de educação física. Campinas, Autores Associados, 2004.
  • FREIRE, J. B. Métodos de Confinamento e engorda. In: Educação Física & Esportes. Perspectivas para o século XXI. São Paulo/SP, Papirus, 1992.
  • __________.Pedagogia do Futebol. Londrina: Ed. Midiograf, 1999.
  • GALATTI, Larissa R & PAES, Roberto R. Pedagogia do Esporte: discutindo possibilidades de intervenção na modalidade basquetebol. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Caxambu, 2003.
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  • KUNZ, E. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Ijuí - RS, UNIJUÍ, 2000.
  • LISTELLO, AUGUSTE. Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer: Organização do ensino – Do esporte para todos ao esporte de alto nível. São Paulo, EPU, 1979.
  • MITCHELL, S. A, GRIFFIN, L. L, OSLIN, J. L. Sport Foundations for elementary Physical Education: a tactical games approach. Champaing, Human Kinetics, 2003.
  • SADI, R S. Esporte e Sociedade. Brasília, UnB, Centro de Educação à Distância, 2004.
  • ________. Pedagogia do Esporte. Brasília, UnB, Centro de Educação à Distância, 2004.
  • ________. Educação Física, Trabalho e Profissão. Campinas, Komedi, 2005.
  • SCAGLIA, A. J. Escola de futebol: uma prática pedagógica. In: NISTA PICCOLO, V. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.
  • SOUZA, A. J. É jogando que se aprende: o caso do voleibol. In NISTA PICCOLO, V. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.

Autor:

Renato Sampaio Sadi

FONTE:

http://escola.educacaofisicaa.net/2012/08/ensinoaprendizagem-de-esportes.html

renatoufg@gmail.com

Refletindo ações após a minha remiscência

                 Mais ou menos uns 7 anos após ter escrito esse trabalho, leio e releio o mesmo, vejo o quão profundas são as marcas que carregamos da infância, da adolescência, da juventude, da vida. Como que nossas ações, influenciam na vida de outras pessoas. Isso serve para que repensemos nosso trabalho, nossas atitudes, nossos gestos no dia-a-dia, enquanto educadores, o modo como podemos agir e modificar condutas ultrapassadas e gerar condutas mais eficazes. 
                 Por vezes me pego reproduzindo o modelo da tal "escola de vidro" e vejo o quanto ele está impregnado em mim, o quanto ainda hoje ele me influencia não só como pessoa, mas como profissional e que tal modelo pode ser mais prejudicial do que poderia imaginar. Como estimular a criatividade, a participação, a inclusão, a expressão, o desenvolvimento das crianças se o tempo todo reprimo, cerceio e por vezes até reforço o próprio comportamento dos pais, de reprimir, castigar, punir?
                  Hoje, além de procurar melhorar o meu corpo, de conhecer suas (minhas) possibilidades,  o que não é uma tarefa lá muito fácil, tenho que planejar novas estratégias de agir perante meus alunos para que possa exercer um papel de facilitadora, estimuladora do movimento e não de repressora dele, o que também não é uma tarefa fácil, mas é desafiadora e é o que me motiva a seguir adiante, fazer diferente.

                    Eis o grande desafio dário!!!!!
                  
                 

domingo, 29 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - IV

          

             Quando fui para o Ensino Médio mudei novamente de escola. Passei por um novo período de adaptação que foi muito rápido, o pessoal lá era muito legal. Nessa nova escola os alunos tinham facilidade em para se expressar, falar, se locomover era tudo muito diferente daquela “escola de vidro” na qual eu estudava.
                 No inicio fiquei um pouco chocada com isso, não estava acostumada a ver, por exemplo, um aluno discutir, questionar ou brincar com um professor ou ver o professor fazer piadas no meio da aula e achava aquele povo todo muito mal educado, mas, aos poucos fui percebendo que não que não, que eles, ao contrário de mim, sabiam se expressar, se posicionar melhor que eu. As aulas de educação física também se resumiam à prática esportiva, e como não podia deixar de ser, continuei a jogar bola, a disputar campeonatos, mas também percebi que o nosso professor (tio Hora) se preocupava não apenas em ganhar os jogos, ele procurava trabalhar, através do esporte, conceitos de respeito, união, amizade, lealdade, responsabilidade para que pudéssemos levar não só para os jogos, mas também, para a nossa vida. Lá fiz muitos amigos, gente muito bacana e que me ajudaram a quebrar um pouco da minha timidez, da seriedade, aprendi a brincar e a relaxar um pouco mais.
               Nesse período, do ensino médio, tive que escolher por um curso para entrar na universidade e ao contrário dos meus colegas, que quebraram a cabeça para fazer tal escolha, eu sempre tive bem claro o que eu queria fazer. Optei pelo curso de Educação Física porque gostava de esportes e admirava o meu professor. Porém, em certa aula, onde a professora tentava esclarecer como compor este texto, um colega falou: “no meu ver, quem optou pelo curso de educação física foi por gostar do universo que ela engloba ou foi para que tivesse a oportunidade se sentir, experimentar, libertar o seu corpo”.
                  Hoje fica claro para mim que era exatamente isso que eu buscava. Passei no vestibular, hoje estudo Educação Física e aprendi que ela não se resume aos esportes (o que me frustrou um pouco no início), mas hoje percebo a importância de todas as disciplinas. O meu corpo, apesar de sutilmente, já se comporta de outra maneira, mudei muito depois que entrei na universidade, agora rio, brinco, falo, até penso e raciocino por conta própria.
                  Pensando e repensando a minha vida, partindo da minha infância, passando pela adolescência até o que sou hoje, percebo que o trabalho que fizeram com o meu corpo não foi lá grandes coisas, pois, ele cresceu fechado, sério, tímido. Mas tive algumas oportunidades de desenvolver algumas habilidades motoras, ele é um pouco descoordenado para fazer algumas coisas (como dançar), mas não me deu nenhum problema até agora. Não posso negar a existência de várias influências negativas na construção do meu corpo, mas agora trabalho em função de melhorá-lo a cada dia, construir um corpo ativo, alegre, solto, e aberto a conhecer as suas possibilidades e utilizá-las diante da vida.

domingo, 22 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - III

            Da mesma forma, em paralelo a esse processo de desenvolvimento escolar, tive, obviamente, uma formação fora dela. Desde pequena sempre tive que ter muita responsabilidade era a única pessoa com quem minha mãe (apesar de eu não entender muita coisa) podia contar, logo que viemos morar aqui, porque meu pai passava a semana toda no interior trabalhando e quando ele voltava no fim de semana ele ia para o bar ficar com os “amigos” dele e quando chegava em casa era para infernizar a vida da minha mãe. Em seguida minha mãe engravidou, ai vinham aquelas conversas de que você vai ficar no canto, vai ter que tomar conta do irmãozinho, você tem que dar bons exemplos (até joguei a minha chupeta fora por causa disso). As brincadeiras na rua eram raras, não podia para a casa dos meus vizinhos, só podia brincar se eles fossem lá para casa, aprendi a andar de bicicleta porque a empregada que tomava conta de mim me ensinou (se dependesse de minha mãe nunca teria ganhado uma bicicleta e o meu pai com toda a paciência que Deus deu a ele nem se deu ao trabalho de me ensinar). Por conta de tudo isso acabei por assumir responsabilidades que não eram minhas (de nenhuma criança).
               Dentre tanta turbulência até que existiam alguns momentos de calmaria. Era durante as férias de final de ano. Todo fim de ano eu passava as minhas férias lá na minha “terra” (Santo André-SP) e como eu já disse é de lá que tenho as melhores recordações da minha infância, assim como a autora do texto “Uma Vida: trilhas e descobertas”, Daisy Maria Barella, que se recorda das suas férias no campo e diz que é de lá que em as melhores recordações da infância festiva e feliz. Era lá na casa da minha avó e do meu avô, onde eu podia ser criança, apenas. Sem cobranças reclamações, pressões, eu podia ser eu.
                Brincar de casinha, de esconde-esconde, fazer mágicas, soltar pipa, subir no murinho andar no meio fio, descer a rua de casa brincando de aviãozinho, tomar sorvete, ir ao parque, ao circo, os passeios pelas noites iluminadas de São Paulo, o cheirinho da comida da vovó, a voz suave do vovô, as brincadeiras do tio, a alegria da tia, as risadas da madrinha, o respeito, o amor existente naquela casa, o som do vento que passava na janela, o cheiro da chuva e aquele frio que dói na alma. Eram momentos mágicos, únicos que me lembro nitidamente e que me fazem acreditar que assim como Daisy “Essa foi a grande escola dos meu sentidos”.

domingo, 15 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - II

                 Com três anos de idade me mudei para Aracaju, porque o meu pai e a família dele são daqui. Dessa fase tenho vagas lembranças, sei que entrei em uma escolinha, na qual estudei até os seis anos, lembro que antes das aulas nós rezávamos a “Oração da Criança” , do parquinho , tinha alguns dias que as “tias” davam banho em nós  e eu odiava, chorava e fugia porque o banho era na frente dos coleginhas e para piorar era com água gelada (detesto banho com água fria) , porque até então , como morava em SP, e lá ninguém toma banho com água fria, nunca tinha tomado banho gelado. Desde quando comecei a estudar sempre dancei quadrilha, na época de São João, lá na escolinha após o recreio as aulas eram suspensas para que nós pudéssemos ensaiar, no mês de setembro a escola promovia o chamado Desfile da Primavera, sempre participei e me sentia a própria dentro daquelas roupas e desfilando para todo mundo ver, lembro que toda sexta feira era dia de ir de roupa comum, sem a farda da escola, e todos os que se esquecessem disso, quando chegavam na escola, os colega, incentivados pelas professoras, vaiavam o coleginha que tivesse ido de farda, e eu , como não podia deixar de ser, passei por tal situação (nunca mais esqueci de ir de roupa às sextas feiras).
                E apesar de ter sofrido uma série de limitações; por a escola ser pequena, pela inexistência e até mesmo pelo desconhecimento das “tias” sobre a educação física para o desenvolvimento das habilidades básicas, para a composição da expressão corporal da criança; eu até que tive um bom desenvolvimento dessas capacidades motoras.
               Ao fim dessa fase, da pré-escola, mudei de colégio, passei por um processo de transformação e adaptação. A escola na qual passei a estudar era religiosa, era um colégio de freiras, e como não podia deixar de ser, tinha princípios e métodos um tanto quanto rígidos e tradicionais, não se podia fazer muita coisa sem que se levasse uma bronca, fosse para a coordenação, para que se ficasse de castigo. Os bons alunos não eram aqueles que efetivamente aprendessem os assuntos, que tivessem um senso crítico e que questionassem o professor, mas sim, aqueles que tirassem boas notas (mesmo que não tivessem aprendido nada), que não conversassem durante as aulas, que não questionassem, não se podia nem colocar os pés naquele estrado que fica em baixo das carteiras.
                Eu no meio de tanto não e sob as ameaças do meu pai de me mandar para um colégio interno procurei sempre me enquadrar dentro do perfil do bom (excelente) aluno. Toda esta estrutura da escola, em nome da ordem e do bom aprendizado me lembra a historinha da “Escola de Vidro” da professora Ruth Rocha onde ela relata a estrutura vivida pelos alunos dentro de uma determinada escola, que cerceava todas as potencialidades e criatividade dos alunos e não possibilitava o desenvolvimento cognitivo e motor de forma integrada. Da 1ª à 4ª séries as aulas de educação física baseavam se, quase que exclusivamente, em jogar queimado na praça em frente à escola. Apesar de não gostar muito do jogo, brincava com os meus colegas porque acabava me divertindo, até o dia em levei uma bolada na cara (de um colega bem forte) e cai para trás. Já da 5ª à 8ª séries a educação física limitava-se à prática esportiva (vôlei, futebol e nataçao) e como sempre seguia a mão inversa da maioria das meninas, fui jogar bola. Durante o recreio e na hora da saída as minhas colegas brincavam de elástico e como eu não era muito boa nisso, sempre ficava de fora. O mesmo acontecia quando elas brincavam de patins (na semana da criança) como não tinha e nem sabia andar naquela tranqueira ficava sempre sozinha.
               Assim, fui ficando sempre no meu canto, séria, calada e para não ficar sem fazer nada lia um livro, fazia os deveres de casa, ai ganhei aquela titulação horrível de CDF (só porque tirava boas notas e não gostava de muita folia). Dessa época da escola os momentos que sinto mais falta são das festas juninas e dos jogos internos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um Pequeno Trabalho de Reminiscência - I

             Até agora, sempre passei aqui pra falar um pouco sobre a Educação Física, as minhas experiências em sala de aula, textos encontrados na internet, trabalhos realizados ainda na Universidade, e assuntos afins.
             No entanto, agora sinto a necessidade de falar um pouco sobre mim, sobre as minhas ações e sobre as ações de terceiros que me fizeram enveredar pela Educação Física, sobre as minhas experiências com a Educação Física não mais como professora e sim como aluna, tanto na universidade, quanto na escola ainda.
             Decidi iniciar essa nova fase de postagens com um trabalho que a professora de Metodologia do Ensino da Educação Física pediu para que fizéssemos uma vez, por sinal talvez tenha sido a melhor coisa da disciplina, porque de metodologia mesmo não aprendemos nada, mas isso também não vem ao caso.
             Ela pediu para que escrevêssemos sobre nós, sobre o que fizeram com o nosso corpo durante a nossa vida, ações que libertam ou que reprimem nossos desejos e que acabam por moldar a nossa personalidade, uma reminiscência acerca de fatos ocorridos em nossas vidas e pudessem dar pistas e deixar marcas determinantes sobre nós até aquele momento. 
               Creio que tenha sido um trabalho muito importante para todos naquele momento. Ora, como trabalhar com as pessoas, como entender os seus movimentos, como possibilitar o desenvolvimento e o envolvimento de todos durante uma aula sem que possamos entender que, cada indivíduo tem uma história e que cada um leva-a no próprio corpo e que se expressa sobre a forma de movimento?
                Assim, a partir de hoje começo a postar o meu exercício de reminiscência, aos poucos, para não ficar muito extensa e cansativa a leitura.

               Eu nasci em Santo André-SP e é de lá que tenho as melhores e maiores recordações da minha infância. E apesar de não me recordar da minha primeira infância (que vivi lá), antes da minha entrada na escola, sempre escutei as historias e vi fotos dessa época da vida, o que me permite agora tentar refletir, e pensar sobre o que fizeram com o meu corpo nesse período de tempo. Quando nasci, eu era filha, sobrinha e neta única e acredito que este fato tenha favorecido o meu desenvolvimento. A atenção, o estímulo e o trabalho para que eu pudesse aprender a andar, falar e desenvolver algumas habilidades motoras básicas foi sempre presente. Minha mãe me diz que apesar de eu ter sido sempre bem calma, eu gostava de cantar e dançar junto com a minha tinha enquanto ela arrumava a casa, brincava com o balde de pregadores, com as bonecas, batia as tampas das panelas no chão e na hora de repor as energias gastas durante o dia, me lambuzava toda quando comia aquela comidinha da vovó. Acredito ter sido essa época, o tempo em que fui e que me deixaram ser realmente criança, fase em que me descobri e experimentei o meu corpo como um todo.

sábado, 5 de maio de 2012

Psicomotricidade na Educação Física Escolar: Importância e aplicabilidade




Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.

Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

A Educação Física Escolar nos dias atuais levou-nos a perceber as diversas possibilidades de garantir a formação integral dos alunos por meio do movimento humano. No entanto, a busca por ferramentas de auxilio na aprendizagem escolar tem se tornado uma constante multidisciplinar, na qual a Educação Física e o conhecimento da psicomotricidade nas aulas abrangem a relação desenvolvimento motor e intelectual da criança. Compreendendo que os estudos atuais ultrapassam os problemas motores, pesquisam-se as ligações com as áreas psicomotoras: Coordenação Motora Fina e Global, Estruturação Espacial, Orientação Temporal, Lateralidade, Estruturação Corporal e as relações com a aprendizagem no contexto escolar.

Segundo Barreto (2000) o desenvolvimento psicomotor é importante na prevenção de problemas de aprendizagem. Portanto, a psicomotricidade nas aulas de Educação Física pode auxiliar na aprendizagem escolar, contribuindo para um fenômeno cultural que consiste de ações psicomotoras exercidas sobre o ser humano de maneira a favorecer comportamentos e transformações. O homem comunica-se através da linguagem verbal, também através de gestos, movimentos, olhares, forma de caminhar - sua linguagem corporal. A esta comunicação, a este estar-no-mundo intenso dentro do limite da corporeidade-espaço próprio do sujeito, pode-se nominar psicomotricidade.

Embora, conforme admitem os próprios autores, esta visão possa ir longe demais enquanto generalização, os estudos sobre o desenvolvimento humano parecem seguir esquemas, descrevendo o desenvolvimento normal para que se possa compreender o diferente. A psicomotricidade não foge a esta regra quando define os padrões considerados normais para o desenvolvimento psicomotor (considerando descrições feitas pela neurologia, fisioterapia, fonoaudiologia e áreas afins), desenvolvendo pontos de referência escalonados a partir dos quais se poderão construir todos os testes infantis e as escalas de quociente de desenvolvimento; e, por conseguinte, avaliar e diagnosticar o atraso atual, assim como o desenvolvimento futuro. (Coste, 1981) "A identidade da Psicomotricidade e a validade dos conceitos que emprega para se legitimar revelam uma síntese inquestionável entre o afetivo e o cognitivo, que se encontram no motor, é a lógica do funcionamento do sistema nervoso, em cuja integração maturativa emerge uma mente que transporta imagens e representações e que resulta duma aprendizagem mediatizada dentro dum contexto sócio-cultural e sócio-histórico" (Fonseca, 1988).

Segundo Fonseca (1988) em Psicomotricidade, o corpo não é entendido como fiel instrumento de adaptação ao meio envolvente ou como instrumento mecânico que é preciso educar, dominar, comandar, automatizar, treinar ou aperfeiçoar, pelo contrário, o seu enfoque centra-se na importância da qualidade relacional e na mediatização, visando à fluidez eutônica, a segurança gravitacional, a estruturação somatognósica e a organização práxica expressiva do indivíduo. Privilegia a totalidade do ser, a sua dimensão prospectiva de evolução e a sua unidade psicossomática, por isso está mais próxima da neurologia, da psicologia, da psiquiatria, da psicanálise, da fenomenologia, da antropologia etc.

A psicomotricidade é a posição global do sujeito. Pode ser entendido como a função de ser humano que sintetiza psiquismo e motricidade com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar de maneira flexível e harmoniosa ao meio que o cerca. Pode ser entendido como um olhar globalizado que percebe a relação entre a motricidade e o psiquismo como entre o indivíduo global e o mundo externo. Pode ser entendido como uma técnica cuja organização de atividades possibilite à pessoa conhecer de uma maneira concreta seu ser e seu ambiente de imediato para atuar de maneira adaptada. (De Meur y Staes, 1984).

A Educação Física e a psicomotricidade são metodologias interligadas em que o desenvolvimento dos aspectos motor, social, emocional dos movimentos corporais é vivenciado, através de atividades motoras. Pode-se afirmar que a Educação Física possui um impacto positivo no pensamento, no conhecimento e ação, nos domínios cognitivos, na vida do ser humano. Entretanto o individuo fisicamente educado vai para uma vida ativa, saudável e produtiva, criando uma integração segura e adequado desenvolvimento de corpo, mente e espírito.

Portanto, a Educação Física, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão psicomotora das pessoas, com os domínios cognitivos e sociais, é de grande importância no desenvolvimento da aprendizagem escolar. Assim a Educação Física, através de atividades afetivas, psicomotoras e sociopsicomotoras, constituem-se num fator de equilíbrio na vida das pessoas, expresso na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano.

Leonires Barbosa Gomes
Especialista em Educação Física Escolar
CREF 979 G/DF CBAt 598 Nível I

Referências
BARRETO, Sidirley de Jesús. Psicomotricidade, educação e reeducação. 2ª ed. Blumenau: Livraria Acadêmica, 2000.
COSTE, J. C. A psicomotricidade. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
FONSECA, Vitor. Psicomotricidade. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
MEUR, A de e STAES, L Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1984


FONTE: http://www.educacaofisica.com.br/index.php/escola/canais-escola/educacao-fisica-escolar/21865-psicomotricidade-na-educacao-fisica-escolar-importancia-e-aplicabilidade

domingo, 4 de março de 2012

As crianças de hoje são mais fracas?



Puxe pela memória. Quais eram as suas brincadeiras preferidas na infância? Empinar a pipa, subir na árvore, pular amarelinha, carrinho de rolimã...

Agora pense em que seu filho gosta de fazer para se divertir. Jogar videogame, navegar na internet e assistir televisão fazem parte da lista dele? Segundo um novo estudo conduzido pelo pesquisador esportivo Gavin Sandercock, da Universidade de Essex, na Inglaterra, as crianças de hoje são mais fracas do que há dez anos. E a resposta para essa perda de força muscular, segundo a pesquisa, está justamente nessa mudança de hábitos na infância.

Gavin descobriu que as crianças com 10 anos em 2008 estavam muito mais fracas do que as crianças que tinham essa mesma idade em 1998. “Eles se recusavam a fazer exercícios, muitas, aliás, nem sabia como começar”, diz Sandercock.

A pesquisa mostra ainda que, em dez anos, a quantidade de crianças que conseguiam fazer abdominais diminui 27% e dobrou o número dos que não se sustentavam o próprio peso em uma barra.

“Houve uma mudança no repertório das habilidades físicas das crianças", diz o professor Luiz Eduardo Greco, assessor na área de educação física da escola Projeto Vida, em São Paulo. "Elas deixaram de brincar na rua e subir em árvore para navegar na internet e jogar videogame, ou seja, perderam espaço para brincar, mudaram o repertório e, claro, tiveram a capacidade física diminuída”, completa.

E passar a fase mais ativa da vida sentado em frente a um computador por horas só pode trazer problemas. Segundo a pesquisa, por não ter uma musculatura desenvolvida, essas crianças quando adultas podem desenvolver osteoporose, um enfraquecimento dos ossos que aumenta o risco de fraturas.

Mas, o que fazer para tirar essa garotada do sofá? Para Luiz, a primeira coisa é o incentivo. Ajude seu filho a encontrar uma atividade física que ele goste e, claro, brinquem ao ar livre sempre que possível. “Para brincar, criança precisa de espaço e companhia. Energia, elas já têm de sobra", diz.



FONTE: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI242041-15156,00.html

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Circuitos para pensar sobre o corpo em movimento


Saiba como fazer com que as aulas famosas pelo agito dos jogos e das brincadeiras também tenham momentos de análise e reflexão







ANDAR PULANDO CORDA Peça que digam
como obter o equilíbrio durante a caminhada:
dar passos curtos e manter os braços abertos ajuda?
A partir dessa etapa, a respiração fica ofegante?
O coração bate mais rápido?




Seja lá qual for o conteúdo escolhido para trabalhar com as crianças durante as aulas de Educação Física - lutas, danças, jogos ou brincadeiras -, um objetivo sempre precisa ser levado em consideração no planejamento (e na hora da prática, é claro): a reflexão sobre o corpo e os movimentos e como eles se relacionam. "Levar os alunos a pensar sobre essas questões é ideal porque a disciplina não é só feita de ações. Achar que as aulas são momentos para a garotada pular, correr e saltar é pouco", explica Larissa Beraldo Kawashima, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), campus São Vicente, e autora da tese Conteúdos de Educação Física para o Ensino Fundamental da Rede Municipal de Cuiabá, que apresenta a sistematização da disciplina.

Você precisa levar cada estudante, logo no início da escolaridade, a se observar e se analisar. Assim todos vão dar os primeiros passos para adquirir saberes que serão explorados até o término do Ensino Médio: o conhecimento de si mesmo, as possibilidades de movimento, as limitações do corpo e os conceitos fisiológicos. É dessa forma também que a turma vai aprendendo que a Educação Física é mais que movimento e adquire, com o passar do tempo, autonomia na prática da atividade física e na manutenção de uma vida saudável, conceito importantíssimo e cada vez mais em voga.

Atividades que colocam os movimentos em evidência, como os circuitos, são uma boa pedida de acordo com os especialistas (veja uma sugestão nas ilustrações desta reportagem).

No CE Sesi 265, em Santo André, na Grande São Paulo, a professora Deborah de Oliveira Campos Figueiredo propõe diversos deles para a garotada de 2º ano. "Também incentivo o grupo a sugerir algumas etapas e dar ideias para tornar mais desafiadoras outras que mesma apresento", explica.

Importante: é claro que para desenvolver as competências de observação e análise não é necessário decretar o fim das atividades lúdicas. Elas são importantes desde que bem conduzidas. Além disso, muitas crianças esperam ansiosas o momento da Educação Física para brincar. No entanto, a missão do educador é ir além. "Aulas com brincadeiras soltas, sem objetivos claros, contribuem para os alunos encararem a disciplina só como um momento de prazer e formarem uma concepção distorcida dela.

Depois da prática, convide a garotada a conversar sobre o que foi feito e como o corpo reagiu à atividade. Nesse momento, seu papel como mediador do papo é muito importante: elabore questões para conduzir as falas. Caso contrário, certamente a discussão não vai render muito, já que os alunos tendem a fazer comentários vagos, como "foi legal" e "eu me diverti".

De acordo com Elisabete dos Santos Freire, professora da Faculdade de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é interessante pedir para que os estudantes prestem atenção nas batidas do coração colocando a mão no peito ("elas estão aceleradas?"), no ritmo da respiração ("vocês estão ofegantes?") e na temperatura corporal ("estão sentindo muito calor?", "estão transpirando muito?" e "estão com sede?"). Perceba que não são utilizados termos como batimento cardíaco, circulação sanguínea, fadiga, estresse muscular e desidratação. Ainda é cedo para nomear esses conceitos, embora esteja se tratando deles na conversa. "Não se descobre como o corpo funciona só quando se está em movimento. Falar sobre ele é muito importante", explica André Trindade, psicomotrista proprietário do espaço Núcleo do Movimento, em São Paulo.

Quanto à prática, conduza a criançada a falar sobre quais partes do corpo foram requisitadas para realizar os desafios do circuito e peça que os estudantes pensem em como aperfeiçoar os movimentos. Essas são questões pertinentes: "Para caminhar rápido em cima do banco sueco, vocês usaram só as pernas e os pés? Se o objetivo é se equilibrar melhor e evitar quedas, o que poderiam ter feito? Abrir os braços funcionaria? Por quê? É melhor olhar para a frente ou para baixo?"

Outro bom encaminhanento para a conversa é sugerir que as crianças contem as dificuldades que encontraram durante o circuito e estimular os colegas a dar dicas de como vencer o percurso com mais facilidade. No entanto, cuide para que esse momento não se transforme numa busca da perfeição nem em um espaço para descrições vazias. Lembre-se de que as análises têm como objetivo principal fazer os alunos pensarem sobre o organismo e o como ele reage à prática. Dessa maneira, com o passar do tempo, eles ampliam o repertório gestual e passam a se reconhecer, cada vez mais, como autores conscientes dos próprios movimentos e responsáveis por sua saúde. Não só durante as aulas de Educação Física mas também no dia a dia.

Três perguntas sobre circuito

Neila Rizzo, professora da EMEF Celso Leite Ribeiro Filho, em São Paulo, explica como planejar a atividade.

Bater bola em ziguezague. Foto: Marina Piedade
BATER BOLA EM ZIGUEZAGUE Pergunte como vencer a etapa rapidamente: é melhor olhar para a frente ou para baixo?

1. Quantas etapas são necessárias para compor um circuito?

No mínimo três, para impor um ritmo ao trajeto, e no máximo cinco, para evitar que a atividade se torne longa e entediante para a criançada. Além da quantidade, organizar um bom circuito pressupõe pensar nos desafios que ele impõe, na diversidade de movimentos envolvidos e na sequência deles. Não é interessante que um exercício de rolamento seja seguido por outro de corrida, por exemplo, por causa da sensação de desequilíbrio.

2. Faz sentido parar a atividade e continuar na próxima aula?

Não, nem que seja para fazer comentários, corrigir ou questionar os alunos a respeito dos movimentos realizados. Interrupções somente são válidas caso a turma esteja fazendo algo de errado a ponto de se machucar. Caso seu objetivo seja fazer pausas frequentes para analisar movimentos, por exemplo, o circuito não é a proposta ideal, já que uma das principais características dele é a realização de todas as etapas em sequência, de uma só vez.

3. É possível organizar um circuito sem nenhum material?

Sim. O próprio corpo pode funcionar como obstáculo. Um estudante pode ficar ajoelhado e com o tronco sobre as pernas, paralelo ao chão, para que os colegas pulem por cima dele, por exemplo. Outro: em pé e com as pernas abertas para os demais passarem por baixo. Se a opção for fazer o circuito desse jeito, é importante revezar o papel das crianças para que as que representarem obstáculos não se cansem nem se desinteressem pela aula.


FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/circuitos-pensar-corpo-movimento-643111.shtml?page=1